"O passado ocupa quase todo o espaço disponível"
"‘O passado não está morto, não é sequer passado’, eu dizia com frequência, citando William Faulkner. Queria dizer que todas as pequenas coisas que acontecem às pessoas permanecem com elas por toda a vida. As experiências influenciam cada uma de nossas escolhas. No caso de experiências traumáticas, o passado ocupa quase todo o espaço disponível no presente”.
{Lars Kepler, em ‘O Hipnotista'}
Enquanto caminho por aí na rua, carrego comigo multidões.
Carrego todos os eus que fui.
Carrego o tapa que recebi do Guilherme no meu primeiro dia de aula, no Jardim.
Carrego o “Nissinho”, que era como minha mãe me chamava, isso no tempo em que ela quase, quase gostava de mim.
Carrego minha primeira paixão e meu primeiro fora.
Carrego o nascimento da minha filha e a morte do meu pai.
O passado não passa.
Fica dentro de nós, num catálogo de erros e acertos.
Basta uma frase dita ao acaso, um cheiro que nos atravessa, uma placa, uma música tocando ao longe, para ele despertar e nos invadir por inteiro.
De repente, eu não sou mais um homem de 35.
Sou um menino de 7 anos e meio, perdido, sozinho, numa cidade estranha, querendo ser acolhido e pertencer a alguém.
O passado não passa.
Ele forma nossas raízes, ele nos compõe.
“Ao meu passado
Eu devo o meu saber e a minha ignorância
As minhas necessidades, as minhas relações
A minha cultura e o meu corpo
Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje?”{Simone de Beauvoir, na voz de Rita Lee, em uma canção de Anavitória}
Se o passado nos preenche tanto, se nos define, forma e transforma, que espaço há para sermos quem nascemos para ser?! Que espaço há livre de marcas, de manchas, de histórias?
Nenhum.
Eu gosto de imaginar que somos como um caderno, cheio de folhas escritas. E não só isso. Naquelas folhas em branco, há marcas também. Dobras nos cantos, borrões, lugares em que a tinta do que passou vazou no que virá.
Não podemos apagar todas as marcas, eu sei. E o que vou dizer até parece clichê, mas não é: podemos sim escolher o que fazer da nossa história. Podemos usar aquelas folhas cheias para fazer colagens, dobraduras, artes infinitas.
Podemos rearranjar as palavras, pintar por cima de algumas, riscá-las.
Podemos recortar corações, borboletas ou estrelas tortas mesmo.
Podemos inventar barquinhos e aviões de papel.
Eu faço isso. Foi assim que eu sobrevivi, aliás: transformando o que me aconteceu, o passado que marcou, em novas palavras.
Palavras que voam até você, para tocar, inspirar, ou, pelo menos, incomodar e fazer pensar.
Eu uso o meu passado para compor, para criar, para embelezar o mundo um pouquinho por vez. E você?!
Há quem ocupe o passado para transformar a vida dos outros. Para acolher e consolar a dor alheia, para ensinar caminhos e até para divertir plateias.
Pois é. O passado ocupa quase todo espaço disponível, eu sei. Mas no que sobra, ainda dá para dançar um pouco. Basta ouvir a música que toca aí dentro.
🪨 Tudo é uma questão de rearranjar as coisas…
🗿 Aliás, esse cara é especialista nisso!
🐚 Parece piada (e é!), mas isso demonstra muito bem como cada história depende do ângulo pelo qual se conta.
🪻 Adorei esse tutorial e o resultado dele.
🌾 Os filmes são tão lindos que ensinam mesmo tudo isso.
✂️ E eu amo ver a criatividade alheia.
📓 Lá no meu Insta, hoje, eu compartilhei algumas dicas práticas do que fazer com o passado que não passa.
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