“Elas não se veem a si mesmas, mas se pudessem, se realmente existisse a possibilidade de desdobramento e pudessem se ver, sentadas nesses sofás tão brancos, cercadas de tanto luxo, devorando a mulher que cumprimentam tão carinhosamente no supermercado, o melhor amigo do marido, o coleguinha do colégio dos filhos que não se comporta como um homenzinho, cortariam a própria língua (teriam de fazê-lo) e depois a colocariam para secar como o cacau e a pendurariam no pescoço: um pingente, uma lembrança da própria podridão. Mas as coisas continuam iguais. As pessoas não são capazes de ver a si mesmas e esse é o princípio de todos os horrores”.
{Maria Fernanda Ampuero, em 'Rinha de galos'}
Morar em uma cidade pequena é sempre ter duas vidas: aquela que é sua, sua mesmo, que você pode manter na total liberdade de quatro paredes. E aquela que é dos outros. A que é cuidada pelos vizinhos, que vira assunto nas rodas de chimarrão, ou nos jantares em família.
No livro “Todos nós adorávamos caubóis”, da incrível Carol Bensimon, li Tapera (cidade em que moro), na descrição de outro lugar, a 54km daqui:
“Soledade era pequena e, de noite, ainda menor.
Parece que a desvantagem de crescer no interior é que todo mundo pode estar conversando sobre você ou sobre seus pais em todas as salas de jantar iluminadas em um raio de três quilômetros. Por isso o melhor é não dar munição para o falatório, ou ao menos era o que Julia dizia quando eu perguntava sobre como tinha sido passar a adolescência inteira em um lugar daquele tamanho”.
Soledade tem cerca de 30 mil habitantes.
Tapera, um terço disso.
Você não consegue ir ao mercado, a uma loja, ou ao motel - que seja -, sem ser visto, reconhecido e precisar conversar com no mínimo 3 pessoas diferentes que vão perguntar coisas como: “E a sua mãe, como ela tá agora, depois da ida ao psiquiatra?” Muito melhor. “É verdade que ela tentou se matar?” Não. “Essa semana mesmo estávamos falando de ti! (Imagino) Como é que tu vai dar conta de aguentar sozinho essa bucha, hein!?” Mas eu não estou sozinho…
Pois é.
A vida aqui é de uma coletividade que impressiona.
E o pior é que a gente se acostuma. A gente se acostuma a dar satisfações em cada esquina. A ouvir as perguntas mais estapafúrdias. A pensar automaticamente no que os vizinhos vão pensar.
A gente se acostuma. A gente se acostuma a viver menos. A deixar para lá ou para depois o que tinha vontade de fazer. A gente se acostuma a levar uma vida pequena.
Tão pequena quanto esta cidade.
🎞 De um jeito ou outro, gostamos dos instantes alheios.
☕️ Tô apaixonado por estes copos, canecas e xícaras. Veja mais modelos aqui. (Não é publi, mas bem que poderia ser 🫣).
🗿 Bizarro ou interessante? Você decide.
🪣 Olha essa arte feita com água sanitária!
📿 E essas feitas com miçangas.
Pessoas, eu tenho recebido aqui alguns pedidos para liberar as assinaturas pagas da newsletter. São queridas e queridos que desejam contribuir financeiramente com o meu trabalho. Eu fico grato para um caramba, 🧡 mas não vou fazer isso por ora.
Por quê?!
Porque quando esta ferramenta é liberada, todo mundo que se inscreve cai numa página de cobrança. Por mais que ela seja opcional, penso que pode causar confusão e afastar mais do que aproximar pessoas.
E meu objetivo é sempre aproximar.
Por isso, esta news é e sempre será gratuita.
Maaas, a pedidos, então, vou disponibilizar uma chave para quem quiser contribui via pix, com qualquer valor. Se minhas palavras importam para você e você quiser retribuir, basta clicar no meu e-mail a seguir, ou informá-lo como chave para a transferência: vinicius.linne@gmail.com.
Eu agradeço imensamente desde já (uma vez que sou um verdadeiro fracasso para monetizar o meu trabalho). 😚