“— Enquanto isso, posso lhe dar um conselho?
— Claro.
— Não seja tímida. Você é uma escritora, use seu papel, experimente-o, lhe dê peso. Estamos vivendo tempos decisivos, tudo está indo pelos ares. Participe, esteja presente. E comece por essa gentalha de suas bandas, coloque-as contra a parede.
— Como?”
{Elena Ferrante, em ‘História de quem foge e de quem fica’}
De tudo que você já disse, de todas as histórias que já contou, de todas as confissões que fez, de todos os segredos que pediu, o que mais importa é o que você calou.
E por quê?!
Porque há histórias que não se escrevem com a mão. Se escrevem com o corpo.
Com o enjoo. Com a insônia. Com o silêncio que fica depois que a frase é engolida.
Você diz que escreve, mas evita o nome do homem que te feriu.
Você fala de traumas com palavras bonitas, mas ainda não escreveu aquele parágrafo que te arranca a pele.
Você contorna cicatrizes com a ponta das unhas, eu sei, mas não coloca o dedo na ferida jamais.
Você circunscreve, muda de assunto, se esconde atrás da técnica.
Da metáfora.
Do “ainda não é hora”.
Do “ninguém vai entender”.
Mas você entende! Você sabe o que aconteceu. Você se lembra da porta fechada. Você se lembra do choro escondido. Você se lembra da noite em claro. Você se lembra de cada abandono e de cada maldição.
E você tenta esquecer.
Mas o corpo não deixa.
A memória volta no cheiro, na roupa, na reação exagerada a um toque qualquer. Ela volta na forma como você se desculpa o tempo todo. Na forma como você se diminui. Na forma como você se endurece para não chorar.
Você diz que é forte, eu sei. Você até acredita nisso. Você se acostumou a contar as dores dos outros. A emprestar sua escrita pra falar de tudo… menos de você.
Você virou especialista em metáforas. Mas e a frase reta? Aquela que não desvia, que não se esconde, que não floreia?
Aquela que começa com:
“Eu estava lá.”
“Aquilo aconteceu comigo.”
“Eu não merecia.”
Talvez, você nunca escreva tudo. Talvez nem precise. Mas precisa saber onde dói. Precisa parar de mentir pra si mesma dizendo que esqueceu. Ou que já passou. Ou que não foi tão grave assim.
Porque foi.
Porque ainda é.
E talvez você só volte a respirar por inteiro quando deixar que a sua dor também tenha nome, e texto, e página marcada.
Você precisa parar de deixar sua dor envergonhada, esfarrapada, fora de moda, velha demais para se andar com ela na rua. Você precisa desatar suas tristezas desse nó que traz na garganta.
Você escondeu suas mágoas, trancou, cobriu, fez de conta que até perdeu ou esqueceu, eu sei. Mas não deu certo. Sabe por quê?! Porque uma parte sua ficou lá com essa dor - trancada, coberta, esquecida. A melhor parte. A parte capaz de revolucionar este mundo, de te fazer conquistar tudo aquilo que você merece. Porque é no seu grito de dor que está sua força, mas você nem tenta mais.
Você se enreda nas dores alheias, nos filmes, nos livros, nas histórias dos outros, tendo tantas dores que são suas.
A sua história não precisa caber no feed, nem agradar a timeline de ninguém.
Ela só precisa ser sua.
E ela precisa ser dita.
Porque enquanto você não escreve essa história, ela escreve você.
Nas ausências. Nos silêncios.
No medo de confiar.
No pavor de amar.
Na mania de se esconder - até de si mesma.
E quando você finalmente tiver coragem de encará-la — talvez com raiva, talvez tremendo, talvez aos pedaços — vai descobrir que, mesmo fragmentada, você ainda é inteiramente você.
🍊 Amei o resultado!
🌩 O que há nas suas nuvens negras?
🌱 Adélia sempre me impressiona.
🥫 Estou viciado nessas artes.
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