"Todas essas linhas cruzando o meu rosto
contam a história de quem eu sou.
Tantas histórias sobre onde estive
e como cheguei até aqui…
Mas todas as histórias não significam nada
quando você não tem para quem contá-las".
{Phil Hanseroth, em ‘The story’}
Meu avô foi o meu primeiro contador de histórias.
Da infância, eu me lembro de estar sempre brincando pelo chão e de erguer meus olhos admirados para o efeito que ele causava com seus causos: todos o encaravam fascinados, só esperando o momento certo para se dobrar de rir. Com ele, não havia tédio, tristeza, tempo ruim. Tudo era motivo para um “Lembra daquela vez…”.
Meu avô já se foi.
Mas eu me lembro daquela vez. Lembro de todas as vezes. Então, ele continua bem vivo em mim. Continua em cada história que eu hoje conto para a Júlia, de tempos e pessoas que eu mesmo não conheci, mas é como se tivesse conhecido, tudo por conta das palavras dele.
Meu pai, em compensação, sempre foi silencioso.
Ele ouvia muito, mas quase não falava sobre a própria vida.
Tanto que, há alguns meses, eu me dei conta de tudo que perdi com a sua morte.
Com ele morreram as histórias do seu tempo de menino, dos jogos de futebol, da época em que a família era dona de um salão de baile. Com ele, morreu seu tempo de quartel, tudo que ele sentiu lá dentro, todas pessoas que encontrou e desencontrou. Também morreram suas viagens de caminhão, seu medo e sua solidão na estrada… Nada. Não restou nada de antes de eu nascer.
Tarde demais, eu percebi que podia ter perguntado mais, incentivado sua memória a fluir e sua vida a continuar vivendo em mim, através das palavras, como vive tão lindamente a do meu avô.
Somos feitos de histórias.
Mas não de todas. Só das histórias que somos capazes de compartilhar, de dividir, de fazer viver em mais alguém. Somos nossos narradores, mas só quando nos transformamos em palavras também. Palavras ditas a um neto, um filho, a quem amamos, a um bom amigo, talvez…
Nossas histórias sobrevivem a nós, continuam até morrer a última pessoa que nos amou, como disse Amós Oz. Mas só se tivermos a quem contá-las. Só se pudermos escrevê-las e deixá-las de herança ao mundo, de marca, testamento.
Às vezes, tenho dó de tudo que morrerá comigo quando eu morrer. Sim, porque embora eu narre a algumas amigas minhas aventuras, mistérios e segredos, sempre há algo que não podemos contar. Sempre há o inexprimível de cada vida humana, o inconfessável de cada um.
Sempre há um mistério que se perde. Uma experiência que nos escapa. Uma história que não se conta. Sempre há um tesouro que se guarda, por medo, vergonha ou culpa.
Sabe, eu tenho dó de tudo que não contei nem em confissão - principalmente em confissão. De tudo que me aconteceu nos bastidores e, por isso mesmo, foi muito mais importante ou excitante do que as ações à luz do palco.
Por isso, vou dar hoje a você a oportunidade que eu queria ter: a de confessar qualquer coisa, de entregar a alguém estranho (ou nem tanto) o que lhe aconteceu. Aquilo que você não queria que morresse com você.
Isso mesmo. Pode responder a este e-mail contanto qualquer história sua. Sem julgamentos, prometo. Fica só entre nós. Assim, você pode estar certo de que uma das suas vivências terá ido além. Terá saído do seu peito para existir no meu.
Somos feitos de histórias. Mas só das histórias que contamos. Hoje, sou todo ouvidos para você poder, até que enfim, ser completo e se encaixar. Em troca, prometo, conto uma história minha também.
Até mais.
🥣 Eu sempre me emociono com esse canal do Youtube. Cada história faz com que eu me sinta menos só, mais humano, mais próximo de quem sente e sorri e sofre também. Recomendo conhecer.
📓 Essa série de vídeos é uma prova de que o tempo só melhora uma boa história, ainda mais se for de amor.
💖 E o que dizer dessa série?! A primeira temporada já foi um espetáculo. A segunda, então… Incrível.
Aguardo seu e-mail.
Abraço e boa semana!
Essa newsletter deu um quentinho no meu coração, Vinícius, muito inspirador tudo que você escreveu. :)