“Talvez—pensei comigo—eu tenha atribuído um peso excessivo ao uso cultivado da razão, às boas leituras, à língua bem governada, à filiação política; talvez, diante do abandono, sejamos todos iguais; talvez nem mesmo uma cabeça muito disciplinada consiga suportar a descoberta de não ser amada.”
{Elena Ferrante, em ‘História de quem foge e de quem fica’}
Eu fiz o caminho da razão.
Eu não tirei os pés do chão.
Eu não perdi o fôlego, não abandonei tudo, não gritei na rua.
Eu fui comedido, manso, tranquilo, racional e esperto.
Eu fui cauteloso sempre. Ouvi mais do que falei. Pesei prós e contras. Fiz listas, planilhas, preenchi agendas. Eu tracei planos. Argumentei comigo mesmo.
Acreditei que, com disciplina, seria possível vencer até o desamor.
Eu achei que se eu fosse suficiente — lúcido, leal, presente —, o abandono não me alcançaria. Achei que, se eu fosse inteiro, isso bastaria para que não me partissem em dois.
Mas não bastou.
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