"Sofrer e crer que não precisa sofrer"
"Se projetássemos um robô capaz de amar a beleza, teríamos de fazer algo com certa aparência de crueldade, capaz de odiar a si mesmo, de se sentir confuso e frustrado, de sofrer e crer que não precisa sofrer, pois é nesse pano de fundo que a beleza da arte se faz importante para nós".
{Alain de Botton e John Armstrong, em 'Arte como terapia'}
Oi! 😊
Tudo bem com você?!
Deixa eu te contar que essa semana vi, várias vezes, a mesma mensagem rolando por aí: é preciso parar com a mania de dizer que a tristeza ensina. É preciso parar de romantizar o sofrimento…
E eu tentei concordar. Juro. Eu tentei entender. Mesmo. Mas não deu. Na minha cabeça entrava sempre a voz da Zélia Duncan cantando: “Um homem com uma dor / é muito mais elegante” e lá se iam as minhas tentativas tolas.
Isso porque, se não conseguirmos extrair nada do sofrimento, se não conseguirmos tirar pelo menos uma lição da dor, como ficaremos?! Mais vazios ainda? Mais perdidos? Mais culpados por não sermos felizes o tempo todo?
Sabe, às vezes, acredito que o Universo é todo orquestrado. Que Deus, a Vida, a Energia, como queira, coloca no nosso caminho exatamente o que precisamos passar para crescer, para nos tornarmos quem nascemos para ser. Às vezes não acredito em nada disso e tudo bem.
Nos dois casos, quando penso na tristeza, sempre me vem um otimismo que não é meu. Eu sou pessimista, juro. Mas quando se trata do sofrimento, da dor, parece que eu sempre preciso ver o seu lado mais bonito.
Lendo a citação de hoje, entendi o porquê: para mim, a tristeza se liga ao que há de mais sublime: a arte.
Meus textos mais bonitos nasceram dos meus momentos mais terríveis. Os filmes que mais me fizeram sentir, sempre foram aqueles de finais infelizes. Os livros que me marcaram com profundidade, feito corte, foram os que me fizeram sofrer. As músicas, as pinturas, esculturas… todas que são sombrias me fascinam mais.
Ah, sinto que estou romantizando tudo de novo. Mas é que é assim para mim. Eu não sou depressivo, não carrego nuvens escuras sobre a cabeça, não procuro lamentos por aí. Mas, quando eles aparecem, têm de servir para alguma coisa, não?! Tem de se transformar em algo terno, bonito, inspirador.
Se até isso me tirarem as postagens por aí, se nem isso mais se puder fazer, se a tristeza for niilista, vier para nada, sem sentido algum, meu Deus, o que faremos então?!
“Não me toquem nessa dor!”
Canta Duncan.
A tristeza é inevitável, faz parte de toda experiência humana. Então, já que ela há de vir, que venha ao menos enfeitada, bonita, de lições possíveis, de reflexões latentes. Vindo ela de Deus, da vida ou do nada, já que vem, que pelo menos traga junto uma razão para crescermos e sairmos dela. Você não acha?!
❤️ Esse filme é uma lição disso tudo que eu disse aqui. E, a propósito, acho um CRIME o que fizeram na tradução dele. Beleza Colateral implica na beleza como um efeito causado pela tristeza (o que faz total sentido com a metáfora dos dominós, da reação em cadeia, a queda de um causando a queda do outro), enquanto que Beleza Oculta faz supor que a beleza sempre esteve ali, só a gente é que não percebia (o que não é, de modo algum, a mensagem do filme).
🐈⬛ Esse vídeo me fez chorar. Aliás, é o segundo vídeo do canal que eu assisto e eles têm esse efeito sobre mim. Ele explica como faz diferença dar porquês aos nossos vazios.
🌱 Esse post, de um tempo atrás, já falava sobre a importância da tristeza para Clarice e para mim. Espero que você se permita ser triste também - mas nunca mais do que o necessário.
No mais, espero sua resposta e te encontro todo dia no Instagram (que em breve vai estar de visual novo, mas é segredo. Não conta pra ninguém, tá?!).