“Um homem, exceto nos momentos de loucura, em que você está apaixonada e ele te penetra, fica sempre de fora. Por isso, mais tarde, quando você deixa de amá-lo, só de pensar que você já gostou dele lhe dá rancor. Ele gostou de mim, eu gostei dele, fim. Quanto a mim, várias vezes ao dia me acontece de gostar de alguém. Você não? Durante pouco tempo, depois passa. Só o menino fica, é uma parte de você; já o pai era um estranho e volta a ser um estranho. Nem mesmo o nome tem mais o som de antigamente. Nino, eu dizia, e só fazia repeti-lo mentalmente assim que acordava, era uma palavra mágica. Agora, no entanto, é um som que me traz tristeza.”
{Elena Ferrante, em ‘História de quem foge e de quem fica’}
É assim, baby, o começo do amor.
É assim mesmo: com você agindo feito criança que ganhou um álbum de figurinhas.
Cada pacote aberto - um beijo, o gosto da pele alheia, o som da voz sussurrada do outro, as mãos nas suas costas nuas - causa um frisson, um frio na barriga, uma nova descarga de adrenalina.
É assim. E cada novo amor será um novo álbum, eu prometo. Uma nova coleção, com os mesmos números, mas em desenhos sempre diferentes, curvas que se encaixam, eixos que se encontram, figurinhas de lamber, sempre e todas elas. É assim, baby.
Pelo menos até você completar o álbum quase inteiro. Até abrir pacote atrás de pacote, esperando uma nova emoção, mas encontrando só decepção em cada figurinha repetida.
E quando você menos espera, a gaveta está cheia delas. Todas idênticas. Aquelas imagens que antes faziam os seus olhos brilhar, agora só entulham o seu espaço. Você olha, suspira, pensa: “de novo, essa aqui?” – e guarda, por pena, por hábito, por não saber mais o que fazer com tanto excesso de quase-amor.
Porque o problema do amor, baby, é esse. É que ele começa como surpresa e termina como rotina. Começa como grito e termina como silêncio emburrado. Começa com sede e termina com o copo esquecido na pia. E o que você faz com esse resto de sentimento que sobrou na xícara? Você toma de um gole só, frio mesmo, sem açúcar, e vai.
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