“Transformado em homem, vivi, não porque soubesse satisfazer minhas necessidades humanas, mas porque houve um caminhante e sua mulher, cheios de amor, que tiveram pena de mim e me amaram. As órfãs viveram, não porque se preocupassem com elas, mas porque uma mulher estranha tinha amor no seu coração, se compadeceu de sua sorte e as amou. Todos os que vivem, não vivem por bastarem a si próprios, mas pelo amor que há no homem. Sabia, outrora, que Deus dera vida aos homens e quis que eles vivessem. Agora compreendo outra coisa. Compreendo que Deus não quer que os homens vivam isoladamente. Por isso não revela a ninguém o que lhe é necessário. Quer que cada um viva para os outros.”
{Liev Tolstói, em ‘As três palavras divinas’}
Diante de tanta desolação, que beira até a falta de poesia, o que tem me salvado ainda é o amor.
E é uma pena que nem todos percebam como ele é a essência de tudo. É por amor que enchemos nossas casas de coisas. É por amor que queremos um carro bonito, uma casa na praia, uma roupa de marca. Tudo o que fazemos e dizemos e compramos é, no fundo, no fundo, porque precisamos que os outros nos admirem, nos percebam, nos olhem, nos amem.
O amor está na costura de tudo. Está na mão estendida, na doação feita, na coragem de entrar em um barco e arriscar a própria vida para salvar meia dúzia de cães ou gatos.
O amor dá força, sustento, coragem, razão.
Mas é o amor, também, que encolhe nossos corações. Amar alguém é se tornar vulnerável. É baixar os escudos, é permitir que algo nos atinja, até a dor.
A nossa ou a alheia.
As histórias infantis já nos ensinavam: o amor fragiliza. A sensibilidade abre feridas, a delicadeza é subestimada. Quem ama alguém tem ali uma fraqueza. Já o ódio, pelo contrário, empodera!
As bruxas estão tomadas de ódio enquanto encaram os espelhos, enquanto mexem os caldeirões, enquanto lançam os seus feitiços. Nós não somos diferentes. Posso apostar que há mais vídeos de reclamações indignadas na internet - pela política, pelos absurdos nossos de cada dia, pelo preço das coisas que precisamos para encher as nossas casas - do que declarações de amor.
Dizemos seguidamente “Eu ODEIO isso!”, mas quase nunca “Eu amo você”.
No ódio, gritamos. No amor, sussurramos. O ódio nos dá coragem, o amor, vergonha. E é assim que conduzimos toda nossa existência. Votando em quem promete acabar com tudo, enquanto ridicularizamos as Marinas da Silva, que prometem salvar plantas e bichos, coitadas.
Queremos mostrar nossa indignação, queremos quebrar alguma coisa, queremos apontar dedos e encarcerar culpados, queremos bandidos mortos, queremos logo o fim! O fim dessa porra toda!
Até tudo começar a acabar.
Até vir a primeira calamidade. E então ela nos mostra que o que queremos, de verdade, é estar com quem amamos. É proteger nossa família, é cuidar de nossos bichos. É amparar quem mora no nosso coração.
De repente, não importam as marcas, os carros, as casas finas ou pobres. Tudo foi lavado e levado pela mesma água. De repente, importam as mãos dadas e as mãos estendidas, não aquelas em forma de arma. De repente, nos damos conta de que o único poder que possuímos, o único bem, o único tesouro é o amor.
O amor é uma forma de resistência, de solidariedade, de esperança, de reconstrução. Não é uma moeda de troca, nem um grito de guerra, eu sei. É um sussurro de paz, uma promessa silenciosa de que, não importa o quão escuro o mundo possa parecer, há uma luz que nunca se apaga, entre nossos dedos entrelaçados.
O amor é a nossa maior força e nossa mais profunda fraqueza, é o que nos torna infinitamente humanos. Em cada gesto de bondade, em cada ato de compaixão, em cada momento de conexão genuína, o amor se manifesta. Para quê tanto ódio então?!
Que possamos aprender a escolher o amor, mesmo quando o caminho é incerto, pois é através dele que encontramos a verdadeira essência da vida e o caminho para um futuro onde a esperança e a solidariedade são as verdadeiras medidas de riqueza e sucesso.
Que o amor seja a nossa bússola, nosso mapa estelar, guiando-nos para um destino onde, finalmente, possamos viver não apenas por nós mesmos, mas uns pelos outros, de verdade.
E se, no fim, eu parecer fraco, ou tolo, ou piegas por acreditar nisso, que seja!
Pelo menos, terei escolhido ficar do lado de quem ama.
❤︎ Por favor, leia esta tirinha!
🤎 É tão simples, tão óbvio, que precisamos de ajuda para ver.
💛 Um tratado lindo e delicado sobre a finitude.
💗 Ainda bem que a arte ajuda a florescer.
🧡 Eu lembrei muito desse vídeo enquanto escrevia…
E se você gosta do meu trabalho e quer apoiá-lo, você pode:
Comprar uma das minhas zines clicando aqui.
Indicar esta news a alguém que você queira bem.
Acompanhar meus textos pelo perfil do Instagram.
Enviar um pix de qualquer valor para vinicius.linne@gmail.com.
Bombou no Insta esta semana: