⭐ "Pra quem não sonha"
“Estamos atolados no tédio. Não queremos nada, não fazemos nada, não sentimos nada! Temos um arranjo muito bom, não é, Duca? Bem útil pra quem não sonha com coisa nenhuma.”
{Carla Madeira, em ‘Tudo é rio’}
Eu já aprendi sobre os fluxos e as marés. Eu já mergulhei até onde não dá pé. Eu conheci as águas-vivas mortas na areia e o solitário peixe-demônio que passa a vida nas profundezas, a perseguir uma luz que jamais descobre ser sua.
Eu já senti o ímpeto das ondas que levam tudo sem aviso e já me tornei, também, a calmaria do mar que recua, costurando tsunamis. Na vida, eu já naveguei por águas tranquilas, nas quais o horizonte se estende como uma promessa, e por mares revoltos, onde céu e mar parecem se fundir em um só nó de chumbo. Eu já fui tanto o marinheiro que traça seu caminho com segurança, quanto o náufrago que se agarra a qualquer tábua de salvação.
Eu já fui a maré que vai e a que vem, levando consigo pedaços de quem fui e trazendo novas versões de quem posso ser. Como o mar, carrego em mim histórias de calmaria e tempestade, de partida e reencontro, de nascimentos e mortes. Por dentro, tenho em mim a dor das ostras e o nácar das pérolas.
Então por que, logo agora, tudo é imobilidade?!
Por que não há ondas em mim, só um mar aberto, a perder de vista, com sol a pino e vento nenhum? Por que a vida parece estar, de repente, sem porto, sem rota, sem mapa e sem estrela para me guiar?
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