"Para que sintam falta"
“Você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.”
{Caio Fernando Abreu, em ‘Pequenas epifanias’}
Eu sou capaz de tantas coisas loucas. Tenho em mim imensidões e saltos. Tenho em mim toda violência e toda covardia de que sou capaz. Por que, então, eu só uso a covardia? Por que tenho medo de novas histórias, de mudanças de vida, de fugas inesperadas?!
Sem contradições aqui: é preciso muita coragem para fugir. Para ficar, a covardia basta, a acomodação, essa desesperança com jeito de arroz branco, todo dia igual, com um pouco menos ou mais de sal, mas sempre cozinhando e derramando levemente seu caldo no fogão.
Eu tenho ímpetos de mudança, de destruição, de arrasar com tudo e ser sozinho no mundo. Eu tenho ganas de entrar em um carro qualquer e rodar, rodar, rodar, até acabar toda gasolina. E então seguir a pé, assim, sem rumo, sem plano, sem avisar ninguém.
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