“Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo.
Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas.
Via-se metade ao espelho e achava tudo demasiado breve, precipitado, como se as coisas lhe fugissem, a esconderem-se para evitar a sua companhia. Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e silêncios como os precipícios ou poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía".
{Valter Hugo Mãe, em 'O filho de mil homens'}
Ontem foi Dia dos Pais, por isso lembrei deste livro aqui. A citação de hoje é o começo dele.
E embora me preocupe essa visão de que você precisa de alguém para se sentir completo (ainda mais um filho, imagine para ele carregar essa responsabilidade!), ao longo da história as coisas se mostram diferentes.
Afinal, é um filho que completa um pai ou um pai que completa o filho?
Durante a infância, meu pai foi pura ausência, sempre viajando para colocar comida no prato.
Na adolescência, eu fui rebelde, cumprindo o protocolo.
Depois que já havíamos feito cada um o seu papel, nos livramos disso e nos rendemos: fomos companheiros. Amigos.
Quando eu mesmo me tornei pai, compreendi que meu papel era outro.
Não o de ser preenchido, mas o de transbordar. Tudo que eu sou, tudo que eu faço, tudo eu tenho, quero que sirva de inspiração para minha filha que cresce. Quero que ela aprenda a ser completa por si, para poder transbordar também.
😍 Que as ilustrações do Dinho Lascoski são incríveis eu já sabia. Agora esta!? Parece feita para mim.
🔍 Falando em pais, filhos, educação e leitura, não deixem de ler e recomendar este estudo para quem vocês conhecem. Isso muda vidas!
🏹 Para finalizar, este vídeo aqui é para entender melhor o conceito de que os filhos não servem para nos preencher, satisfazer, cumprir nossos sonhos e superar frustrações.