"O que você quer mais?"
“Já me despi.
Caí como uma luva.
Já me esqueci
Onde ficava a rua
Por onde andei,
Já lhe beijei na chuva.
Já lhe mostrei
O coelho que há na lua.Sem rastro e sem cometa,
Sem tinta e sem caneta,
Nem verso que me valha,
Sem fio e sem navalha
Eu já lhe dei
Ímãs de geladeira.
Eu já lhe fiz
Promessas pra vida inteira.
O que você quer mais?Já lhe comprei
Brincos de tartaruga.
Já quis fugir
Já desisti da fuga.
Já me peguei
Com a alma tão miúda,
Lendo e relendo
Livros de auto-ajuda
Lendo e relendo
Livros de auto-ajuda”.{Juliano Holanda, em ‘Ímãs de geladeira’}
O que você quer mais eu não posso dar.
Ou melhor: eu não quero.
E eu precisei aprender.
Eu precisei entender sobre os meus limites.
Eu precisei encontrar uma voz que eu não tinha para dizer não.
E foi demorado, foi doído, mas eu encontrei.
Então, NÃO!
Eu não vou me sentir culpado por não atender às suas expectativas.
Afinal, elas são suas, não minhas.
Eu não vou me deixar desconfortável para que você se sinta melhor. Jamé!
Eu não vou perder meu sono pensando se fui insuficiente para você.
Se fui, paciência. Às vezes eu o sou até para mim.
“Somos quem podemos ser”, já cantavam os Engenheiros do Hawaii.
E eu posso ser isso só. Posso entregar de mim esse tanto que decidi.
Se for pouco para você, ok. Mas eu não vou ceder nem mais um milímetro.
Sabe por quê?! Porque eu te amo, mas eu me amo mais.
E não vou ir contra o que sinto, o que penso, o que acredito para que você se satisfaça. Eu já fiz isso por tempo demais.
Aliás, você conhece a história da Árvore Generosa?!
Pois devia. É só um livro infantil, eu sei, mas como toda história para crianças, ensina muito sobre a vida. É assim: no começo, o menino quer da árvore só o que ela pode dar: uma sombra, galhos gostosos de se pendurar e algumas maçãs para matar a fome.
(Eu já fui isso tudo para você também: descanso, diversão e fome.)
Mas, com o passar do tempo, o menino cresce e suas necessidades crescem também. Ele então quer a madeira dos galhos e do tronco para construir uma casa e um barco. E ela cede. Afinal, ela é Árvore Generosa, lembra?!
No fim, da árvore só resta um toco, que ainda assim serve de banco para o menino, já então um homem cansado.
A história deveria ser sobre a generosidade e o amor incondicional, a vontade de servir sem esperar nada em troca. E isso tudo é muito bonito, eu sei. Mas um toco não é uma árvore, penso decepcionado. E, pelo menos para mim, a moral se vai.
Veja bem: a árvore se despiu dela mesma para servir ao menino.
E isso não se faz! Ela deixou de existir para que tudo nele fosse satisfeito. E isso não me serve.
Da Literatura Infantil, eu passo para uma música que embalou minha meninice.
Eu tinha 11 anos quando a novela Corpo Dourado fazia sucesso na TV. Dela, eu não me lembro de quase nada, mas uma música da sua trilha sonora eu sei de cor:
Deixei de ser cowboy por ela
Parei de viajar por ela
Larguei minha paixão por ela
Deixei de ser feliz por ela[…]
São segredos da paixão
Por eu não ser mais peão
Ela resolveu me abandonar
{Chitãozinho e Xororó, em ‘Deixei de ser cowboy por ela’}
Como a Árvore Generosa, o eu-lírico da música abriu mão de tudo por amor. Tanto que se descaracterizou. O que o fazia ser amado, deixou de existir.
Ou seja, ceder demais reduz as coisas.
E basta as coisas serem reduzidas para que deixem de ser amadas.
Então, não. Eu não vou me reduzir por você.
Eu já te dei minha dedicação, meus sonhos, meu tempo, meu amor e minha vida também. O que você quer mais?! Minhas letras são minhas, meu texto é meu, minhas horas, minhas vontades, minha pele e meu peito são meus e continuarão sendo.
Então, eu não sei o que você quer mais, tampouco me importa saber.
O que eu sei é que sigo sendo meu, inteiro, para me repartir só quando, como e com quem eu quiser.
Não sou uma árvore generosa, nem um cowboy para deixar de ser.
Sou eu mesmo. E eu decido sempre quanto de mim você vai ter.
🎧 Você não vai se arrepender de ouvir isso, juro! (Aliás, eu sempre me lembro dele quando dizem que a música brasileira não presta. Sabem de nada!)
😻 Será que o seu gato frajola é o mais bonito do Brasil?!
👵🏻 Esse perfil é só para quem gosta de uma boa dose de estranhamento.
🖍️ Eu amei essa invenção aqui. (Mesmo sendo do time “livro bom é livro riscado”)
E se você gosta do meu trabalho e quer apoiá-lo, você pode:
Comprar uma das minhas zines clicando aqui.
Indicar esta news a alguém que você queira bem.
Acompanhar meus textos pelo perfil do Instagram.
Enviar um pix de qualquer valor para vinicius.linne@gmail.com.
Bombou no Insta esta semana: