"O amor é uma intervenção"
"A cada segundo o universo se divide em possibilidades e a maioria delas nunca acontece. Não é um uni-verso; há mais de uma leitura. A história não para, não pode parar, continua contando-se, esperando uma intervenção que mudará o que vai acontecer em seguida. O amor é uma intervenção".
{Jeanette Winterson, em 'Deuses de pedra'}
Nada do que é amado continua igual.
Uma criança amada cresce forte e segura de si.
Um relacionamento que é cuidado encontra a melhor maneira de se expressar.
Uma profissão pela qual se é apaixonado raramente parece uma tortura.
Mas e você?
Se você se amasse, se amasse de verdade, quem você seria?
O que mudaria? Aonde já teria chegado?
A pergunta feita assim, à queima-roupa, pode incomodar, eu sei.
Mas preciso dizer como cheguei a ela. E então tudo vai fazer sentido, eu prometo.
Primeiro, o que veio foi a frase um filme. Um filme que se tornou o meu favorito de 2022, o estranhíssimo e irônico e adorável Tudo em todo lugar ao mesmo tempo:
“Você subestima como as pequenas decisões podem criar diferenças significativas durante uma vida. Cada mínima decisão cria uma nova ramificação do universo”.
Numa trama repleta de multiversos e possibilidades, essa frase é levada ao extremo. Uma mesma personagem pode ter milhares de versões (atriz, cantora, lutadora, dona de uma lavanderia falida…), a depender das escolhas que fez ou deixou de fazer ao longo da vida.
O mesmo vale para nós.
O que me fez pensar mais sobre isso foi o aplicativo Lensa, que virou febre nos últimos dias nas redes sociais. Por meio de Inteligência Artificial, ele cria diferentes versões nossas a partir de algumas fotos.
Cada imagem criada parece saída de um multiverso diferente, no qual somos astronautas, guerreiros ou modelos sem camisa.
Mas o que me separa do modelo sem camisa?
O amor.
Como você agiria se você se amasse? Pense nisso um pouco. Que escolhas faria? Que palavras você diria a si mesmo? Como se trataria? Se você se amasse de verdade, que tipo de comida escolheria para nutrir seu corpo? Quanta água bebeira por dia? Coloque essa pergunta antes de cada decisão: Se eu me amasse, o que eu escolheria?
Fui bombardeado por essas questões em um reels que esqueci de salvar. E foi daí que percebi que o que me separa do modelo sem camisa é o amor. E não estou falando aqui de dieta, academia ou harmonização facial. Estou falando de me amar o suficiente a ponto de deixar a vergonha de lado e aproveitar a vida, gostar do meu corpo do jeito que ele é, estar seguro, enfim.
Hoje estou fazendo 35 anos.
E, por isso, estou repassando escolhas, rotas, caminhos.
Assim, percebo quantas vezes escolhi o medo ao invés do amor. Medo de ficar sozinho. Medo de não ser aceito. Medo do desconhecido. Medo de não dar conta. Medo de amar e de me deixar ser amado também.
Dizem, aliás, que o oposto do amor não é o ódio, é o medo.
Hoje eu concordo.
Às vezes, eu queria que houvesse uma centena - ou mais - de multiversos à disposição. Lugares em que eu teria me realizado sendo outra pessoa, traçando outros caminhos, tendo autoconfiança e amor-próprio.
Em outras vezes, porém, me dou conta de que não preciso disso.
De que apesar de não parecer, esse universo mesmo é plural, é cheio de escolhas possíveis.
Num dos meus TEDs favoritos, Lori Gottlieb diz que todas as histórias que houve como psicoterapeuta giram em torno de dois temas só: liberdade e mudança.
E ela vai além: afirma que apesar de nos sentirmos presos à vida que escolhemos, temos total liberdade para mudá-la a qualquer momento. Simples assim.
Há preços a pagar, claro. E a mudança pode não ser momentânea… Mas como disse o filme que citei, as pequenas mudanças somadas criam uma vida completamente diferente.
E se você pudesse pensar, a partir de hoje, em que escolhas faria se você se amasse?! O que teria mudado daqui a um ano? Suspeito que tudo, tudo mesmo.
Eu vou tentar.
Essa é a minha meta para chegar aos 36: usar o amor como regra em cada intervenção. Numa dessas, de tanto fazer escolhas baseadas no “se eu me amasse”, a gente acaba se amando mesmo, não é?!
Que tal tentar?
Daqui a um ano, eu volto a lhe escrever para saber o que aconteceu por aí.
Prometo.
🪤 Acho que já compartilhei por aqui, mas vale a pena relembrar disso de tempos em tempos.
🦌 Se você quer chegar a um resultado desses, precisa atravessar cada pequena etapa, não tem jeito. E isso não é (só) sobre a arte.
🌌 O caminho é longo e vai para o desconhecido, mas ele pode ser bonito, né?!
🌸 Afinal, são tantas as formas da vida surgir…
Ah, e antes que você siga viagem, preciso dizer.
Como estou fazendo 35 anos hoje, reuni as minhas duas zines digitais em um kit com 35% de desconto! 💜💜💜
A primeira delas é sobre como escolhemos as palavras que nos formam e como quebrá-las em mil pedacinhos quando elas não servem mais. A segunda, é sobre o poder que a escrita tem de nos fazer exorcizar nossos demônios internos.
Ambas podem ajudar você a ver a vida de outra forma e fazer as intervenções amorosas que você precisa fazer. Ou assim espero.