"Conserva-te bom. Não manso, bom.
Conserva-te bom. Não amnésico, bom.
Conserva-te bom. Não frouxo nem covarde, bom.
Conserva-te bom. Não sorridente, bom.
Conserva-te bom. Não obediente, bom.
Conserva-te bom. Não calado, bom.
Conserva-te bom. Não indiferente, bom.
Conserva-te bom. Não imparcial, bom.
Conserva-te bom. Não quieto, bom.
Mas não te creias melhor. Isso de andar se comparando deixa para eles".
{Margarita Roncarolo, em 'Conserva-te bom'}
Quando somos pequenos, queremos ser os heróis das histórias. Os príncipes e as princesas. Mais tarde, porém, entendemos que os vilões é que se divertem mais. E que têm razão, inclusive, na maior parte do tempo.
Você já imaginou ser a única a não ser convidada para uma festa em que todas suas amigas vão?! Ou, que tal, aguentar a estupidez dos jovens cantando lalalás no seu castelo o dia inteiro, atraindo centenas de passarinhos que cagam por tudo?!
Afff! CAÇADOR, CHEGA AQUI! Temos uma missão pra você! 🫀
É…
Como não nos identificarmos com os vilões, se os bonzinhos são tão trouxas?! Até no diminutivo eles vêm, você notou: bonzinhos… Com o tempo, fomos ouvindo tantas vezes “Isso é pra você deixar de ser bocó” que acabamos misturando as coisas. Pensamos que ser bom é sinônimo de ser bocó, manso, quieto, passivo, acomodado...
Até mesmo porque o poder, poder de verdade, vem do ódio (insira trovões e raios verdes a la Disney aqui)!
Sério: o ódio empodera e ninguém gosta de se sentir fraco. Metade dos problemas que temos hoje, com essa polarização doida, vem disso. Desse poder que sentimos quando decidimos que estamos com a razão e que o outro, BURRO, deve pagar por estar errado.
O poema da argentina Margarita Roncarolo, nesse contexto todo, me atingiu como um golpe de maçã envenenada. Engasguei. O ódio confere a impressão de poder, sim. Mas de que adianta um poder usado para os fins errados?! A bondade é confundida com mansidão, sim. Mas esse é muito mais um problema conceitual do que de essência.
Ser bom, bom mesmo, é encontrar um equilíbrio.
Não é ser tolo, inocente, bobo. Mas também não é ferir à toa, ser tóxico e dar uma gargalhada no final. Até porque, a única gargalhada do vilão cabe lá pelo meio da trama. No final, ele só recebe o castigo que merece por ter se perdido no papel.
Assim, começo essa semana lembrando a você (e a mim, claro) que é preciso continuar sendo bom. Apesar de tudo. E que ser bom é se posicionar, sim. É falar, é brigar e é manter a cara feia quando necessário. Mas nunca mais do que o necessário. Essa é a diferença. Esse é tom.
Fique bem. 💜
Fique bom. 💜
👿😈 Merece ser lido: 9 vilões da Disney que são muito mais gente como a gente que qualquer príncipe ou princesa.
⚓️🎼 Uma dica para você: use músicas para ancorar sentimentos. Como assim?! Defina uma música que te coloca em um humor específico e volte para ela sempre que precisar. Quer um exemplo?! Stay Gold, da minha banda favorita, First Aid Kit, é a música que serve pra me lembrar de ser bom, mesmo quando tudo desmorona. (Se curtiu o som e quiser a tradução, tá aqui!).
👁️👁️ No mais, eu sou fascinado pela arte que parece vir do estrago, da destruição, do rasgo…
Sobre conservar-me bom em tempos difíceis, lembro muito dessa música:
"Que el odio se muera de hambre
Porque nadie le da de comer
Vamos juntos a romper
Muros, barreras y alambres"
https://www.youtube.com/watch?v=z6ZuUplbEOY
Eu fiquei tão reflexiva com essa news. Como sempre caiu como uma luva para mim.