"Meu maior obstáculo é não saber quem sou."
"É preciso aprender a viver. Eu treino todos os dias. Meu maior obstáculo é não saber quem sou. Vou tropeçando, às cegas. Se alguém me amar do jeito que eu sou, talvez eu finalmente arrisque a olhar pra mim mesma. Pra mim, essa possibilidade é bastante remota. […]
Será assim com todo mundo? Ou será que alguns têm mais talento pra viver que outros? Ou será que alguns jamais vivem, mas apenas existem?"
{Ingmar Bergman, em 'Sonata de outono'}
Eu tenho andado descompassado. De novo.
Já senti isso antes e sei quando se intensifica. Mas dos motivos não quero falar. Quero falar só do sentimento de descompasso em si. É assim: no geral, eu sou tomado pela ansiedade. Sinto como se eu vivesse cada momento com um pé à frente.
Escrevo essa newsletter e penso já na publicação do Insta que preciso fazer depois. Faço a publicação pensando na aula por dar. Dou a aula imaginando o que vou fazer de almoço. Almoço planejando a prova da sexta-feira, e assim por diante.
O presente é um espaço inabitável para mim.
Mas isso nem é o pior. Porque sei lidar com essa sensação. Sempre foi assim. Não houve um lugar que eu ocupei até hoje sem me pegar pensando em como sair dele.
Meu descompasso vem de outros momentos.
Quando vivo esses momentos, em vez do habitual passo à frente, sinto como se desse, de repente, dois passos para trás. E é daí que me desequilibro inteiro.
Nesses momentos, a ansiedade vai embora. Mas eu não consigo me encontrar, ainda assim. Eu não consigo viver, fechar os olhos, sentir o que há para sentir, aproveitar o que é necessário aproveitar.
Eu então me desloco do meu centro e é como se eu me observasse de fora. Frio, racional, distante mesmo. Eu me sinto como um narrador em terceira pessoa, vendo o que faz o Vinícius, o que ele pensa, com o que se preocupa.
Eu sou um espaço inabitável para mim.
Estou toda hora nessa dança marcada:
Um pra frente, dois pra trás.
Um pra frente, dois pra trás.
Um pra frente, dois pra trás.
Sempre tropeçando, nunca aqui, dentro de mim.
Eu não tenho sabido viver. Perdi a habilidade de me conectar. Ao presente. Aos outros. Mas especialmente a mim mesmo. E você, ainda sabe como se faz?
Espero que sim. Porque preciso de alguém para me ensinar, de novo, a ser eu.
🤯 É sobre isso, talvez.
📖 Das coisas que eu amo, penso que poderia fazer, mas sei que nunca vou.
🎺 Tenho sentido minha mente mais ou menos assim. Ou então assim.
🐺 Chapeuzinho vermelho e o lobo mau como você nunca viu.