"Mesmo que o mundo nos ignore"
"Minha mãe foi a pessoa mais inteligente, intensa e, ao mesmo tempo, difícil que eu conheci. E isso não é dizer pouco. Ela era difícil porque não fazia concessões à banalidade. Tolerância zero para a mediocridade. […] Essa foi a lição mais importante que a minha mãe me deixou: ser sincero, digno e ético, sempre. É o não aceitar nem um cafezinho. É agir de acordo com a dignidade, não com a comodidade. Nem sempre é fácil, mas sempre é claro. Mesmo que pareça impossível, mesmo que seja desnecessário, mesmo que talvez a gente não seja ouvido, mesmo que o mundo nos ignore".
{Carolina Vigna Prado, sobre sua mãe Elvira Vigna, no Prefácio do livro ‘Kafkianas’}
Eu já disse aqui o quanto cresci silencioso e observador, não disse?! Discreto mesmo.
Eu sempre fiz questão de sentar nos cantos, de não ser notado, de abaixar os olhos, de me calar e de me encolher, de ficar vermelho a qualquer olhar.
Se eu tivesse que escolher um superpoder, sempre pensei que escolheria o da invisibilidade.
Hoje, eu sei que muito disso tem a ver com o modo como eu nasci: precisando ser escondido, entregue em uma trama ilegal de adoção, tudo para que minha vinda ao mundo não causasse um escândalo ou dois.
Enquanto crescia, esse sentimento foi reforçado em mim: “O que os outros vão pensar?” e “O que os vizinhos vão dizer?” eram os mantras favoritos da minha mãe adotiva. Então, aprendi a não ser visto, a não ser pensado, a não chamar jamais a atenção.
Até que tudo mudou.
Sim, porque hoje eu me exponho, faço vídeo, tiro foto, falo, me coloco, me imponho até.
Por quê?! Por causa de uma frase.
A frase certa, dita pela pessoa certa:
“Ocupem os seus espaços!” — ouvi isso de alguém que amei.
“Ocupem os seus espaços. Aproveitem cada oportunidade de passar suas mensagens. Façam a sua voz ser ouvida, porque caso contrário nada vai mudar”.
Levei a sério. Até demais.
Por isso, hoje, eu quero dizer para você levar a sério também. Como Elvira Vigna fazia: ainda que pareça desnecessário, ainda que ninguém escute, ainda que você se encrenque (e meu Deus, você vai se encrencar, isso eu prometo), fale! Se você tiver confiança na sua mensagem, se tiver certeza da necessidade dela, se tiver clareza, fale!
Mesmo que o mundo te ignore.
Mesmo que você seja visto como problema.
Mesmo que não cause mudança alguma.
Fale.
Não se cale diante da mediocridade, não se omita diante da banalidade, não tolere o mal, por menor que seja.
Fale.
Se não mudar nada no mundo, pelo menos muda tudo dentro de você. E é lá que importa.
📣 Conheci Elvira Vigna e sua Literatura tarde demais, só depois dela haver partido. Ainda assim, preciso dizer o quanto ela me impressionou. A carga dela de não fazer concessões, de falar o que importava, de não querer agradar, está toda aqui, nesta entrevista.
📻 Toda minha gratidão, inclusive, ao podcast Bobagens Imperdíveis, da Aline Valek. Foi lá que soube pela primeira vez da Elvira e ouvi um trecho sensacional de “Por escrito”.
🖌 Às vezes, é preciso desconsertar para se chegar lá.
Por hoje é isso. 💜
Mas vou ficar imensamente feliz se você puder passar essa mensagem adiante: