"Nunca há um momento no processo de escrita em que eu sinta que consegui atingir o que queria, ou que estou escrevendo algo que as pessoas precisam ler. Na maior parte do tempo eu choro embaixo do chuveiro ou olho para o computador feito um zumbi, imaginando como é que os outros autores conseguem promover seus livros com tanta confiança. Este é o melhor livro do mundo desde o último livro que escrevi! Você tem que ler! Eu sou aquela autora esquisita que posta uma foto do livro e diz: ‘Este livro é meio mais ou menos. Tem umas palavras nele. Leia se quiser’".
{Colleen Hoover, em “Verity”}
Imagine alguém apaixonado por flores. 💐 Alguém que gosta de cultivá-las desde a semente. De sentir os dedos afundando na terra. De acompanhar, dia a dia, o processo de crescimento de um broto. 🌱 O desenrolar das folhas. 🌿 O surgir de um botão. 🌷 O desabrochar, até que enfim, lindo, lindo. 🪷
Agora, imagine que essa pessoa - que é apaixonada por flores - esteja pensando em abrir um negócio, algo que aproveite essa sua paixão.
Que negócio ela abriria?
Você pode ter aí muitas respostas: uma floricultura, óbvio, ou quem sabe um curso de arranjos ornamentais, uma empresa de paisagismo…
Maaaas, se fosse eu a pessoa em questão, abriria… não sei.. um restaurante?!
É perfeito! Eu posso usar as flores para enfeitar as mesas!
E assim, todo o trabalho do restaurante em si, a gerência, a cozinha, o serviço… tudo, me tiraria completamente o tempo (e o foco) de ver o crescimento das flores. Até, no fim, eu colocar em cada mesinha um buquê de plástico e viver infeliz para sempre. 🥀
“As flores de plástico não morrem”.
Esse e-mail não é sobre flores, claro.
É sobre as formas que a gente encontra de evitar a vida que deveríamos ter.
E, no final, deixamos tudo assim, como no título do e-mail: meio mais ou menos.
Se você acompanhou essa newsletter desde o começo, talvez se lembre de que ela não era assim. A parte da “Reflexão” era só um acessório. O que me importava mesmo era a citação e os links de inspiração.
Eu cheguei a fazer uma propaganda de que esta seria uma newsletter sem newsletter. Sem textão trancando a sua caixa de entrada.
Mas sabe o que aconteceu? Você aconteceu.
Você que passou a me escrever. Você que compartilhou, justamente, a parte da reflexão. Você que me mostrou que ela era a essência de tudo aqui.
A minha escrita, vejam só!
As flores que eu coloco como enfeites de mesa.
Eu sempre quis ser escritor. Eu sempre trabalhei com a palavra.
E, ainda assim, eu sempre usei meu texto como subterfúgio.
Como acessório. Como brinde. Como extra.
Olha que legal esse conteúdo. Ah, e tem um texto meu na legenda, se você não se importar de ler. Olha que linda essa zine! Eu passei horas trabalhando no design e nas colagens! Ah, e tem umas coisinhas escritas no meio também, pra ocupar o espaço.
Mas eu não sou um escritor?!
Minha paixão não é, justamente, pela escrita e suas possibilidades?
Parece que não. Na semana passada, alguém me apresentou como psicólogo. E a culpa não é dela! É minha, que confundo tudo porque não me imponho. Não me apresento. Não me posiciono como escritor.
E eu sei de onde isso vem. De anos sendo treinado para não chamar a atenção. Para falar baixo. Para ter sempre em mente "o que os outros vão pensar”. Escrita?! Aff! Que coisa de desocupado! Letras!? Vai ser professorzinho, é?! Por que você não faz administração? Alguma coisa séria, que dê dinheiro?!
E cá estou eu, tentando administrar alguma coisa séria, pensando se lanço um curso que ensine Literatura Brasileira, ou um de escrita criativa, não sei?! Enquanto tudo que eu preciso é abrir meu baú de sonhos enterrados. É olhar para o menino que eu fui e que queria ser escritor, só. Escrever, escrever e escrever. Ser lido e sentido. Inspirar como era inspirado por aqueles livros que lia. Só. Desde o começo.
Mas eu vou fazer isso agora, prometo!
Restaurante nunca mais!
Não quando o desejo é de terra e flor.
Por isso, já iniciei por aqui os planos de reformular minha marca. De mudar o foco. De intensificar meu trabalho com a palavra, minha paixão. Nas próximas duas semanas, você não receberá notícias minhas. Estarei de férias, depois de três anos trabalhando direto. 🍹 Mas quando voltar, no dia 13 de fevereiro, terei rompido meus nãos. Estarei mais intenso e presente que nunca, prometo!
Mas e você, hein?! Você que me ajudou a perceber isso tudo, que me deu tanto, quando você vai desenterrar os próprios baús e perceber que aqueles sonhos antigos são, na verdade, sementes de alguma coisa que ainda pode sim florescer, se você deixar. Se você conseguir se tirar da frente a parar de fugir?!
Espero que logo! 💜
🔦 Mas que bobagem, 15 anos praticando tirar foto com luzinha pra chegar nisso?!
🔨 Que falta do que fazer: desenhar pra estragar depois.
🚓 Por acaso ele não teve infância?! Não brincou de carrinho quando era pequeno?
✂️ E me diga pra que estragar uma caixinha tão boa?! Não! Sem fundamento!
Estranho apresentar os links assim, né?! 🫣 Mas é só para reforçar meu ponto de vista: se esses artistas tivessem dado bola a essas vozes aí (que com certeza rolaram em algum momento), nenhum desses vídeos estaria aqui.
Então, desligue as vozes da sua cabeça para ouvir e fazer reverberar a sua própria.
Nos vemos logo.
Chegou até aqui por outros caminhos e gostou do que viu?! Então que tal:
Fico feliz em te ler encontrando nas palavras as tuas flores. Sigo por aqui te acompanhando e na torcida para que teus cultivos continuem nutrindo outras pessoas como sei que nutrem a mim 😊
Suas palavras são um presente para quem as lê!