"Irremediavelmente sozinho"
"Hoje é do que mais tenho saudade. Desse sentimento que, na sua plenitude, talvez se reserve às crianças: de acreditar que alguém cuida de nós segundo o nosso mérito. Quando se perde essa convicção, fica-se irremediavelmente sozinho."
{Valter Hugo Mãe, em 'O filho de mil homens'}
Meu Deus, como eu fui tolo!
Muitas vezes, e por muito tempo, sempre que alguém me dizia assim: “Nossa, Vini! Mas como você é maduro pra sua idade!” eu me orgulhava inteiro, inchava de satisfação.
Isso porque via no elogio algum sinal de evolução, algo até mesmo espiritual. Como se minha alma tivesse décadas a mais de vida e me trouxesse, por isso, uma sabedoria que me distinguisse de todos os outros da minha idade, que me tornava único, especial…
Meu Deus, que burrice a minha!
Só agora eu posso ver que não era maturidade aquilo, era negligência, pura e simples.
O que me fazia assar bolos e passar roupa aos 8 anos não era uma sabedoria transcendental. Era só a ausência do meu pai e o abismo que era minha mãe. Eu cuidava de mim (e de tudo!) porque não havia quem cuidasse.
E foi assim que eu aprendi a ser maduro: por necessidade. Tanto que, agora, aos 35, eu tenho a alma (ou seja, a rabugice e o cansaço) de alguém de 72.
E foi por isso que eu surtei na semana passada.
Foi por isso que cansei e gritei, e gritei, e gritei, em total descontrole.
Por não aguentar mais ser o único adulto responsável.
Todo mundo à minha volta pode surtar. Pode perder a calma. Pode ser in-su-por-tá-vel de vez em quando. Porque eu suporto. Todo mundo pode fazer birras dignas de uma criança. Todo mundo pode, porque sabe que eu vou dar conta do recado.
Eu vou continuar fazendo o que é preciso. Vou continuar cuidando, controlando, organizando e dizendo: calma, não é bem assim, respira.
Até eu mesmo sufocar.
Até cansar, por perceber que não há um adulto responsável para mim.
Eu não tenho mais para quem ligar. Eu não tenho quem me diga: calma, não é bem assim, respira. Eu não tenho alguém que assuma o que eu faço, caso eu não esteja em condições de fazer.
“Quis custodiet ipsos custodes?”
”Quem cuidará os cuidadores?”
Já perguntava o poeta romano Juvenal, no primeiro século depois de Cristo.
Pergunta esta que, ironicamente, eu apresentei num seminário de Latim no primeiro semestre da faculdade. Decerto já cansado desde então, mas sem conseguir formalizar isso tudo como aqui.
Quem cuidará de mim, se eu tenho sido o eixo em torno do qual gira a loucura de muita gente? Se eu tenho sido castigado e sobrecarregado porque me mantenho firme, de pés no chão, controlado e controlando o que é preciso, sem medicação nem terapia?
Posso te confessar?!
Esta semana eu só queria ser o problema da família.
Eu queria ser o que colocou tudo fora no jogo e tentou se matar. Eu queria ser o que se viciou em heroína e ninguém mais sabe o que fazer. Eu queria ser o esquizofrênico, com consciência o suficiente para usar o meu transtorno para ferir alguém. Eu queria ser o que foi preso traficando drogas. Eu queria ser o que virou o carro com a amante dentro.
Eu sei. Sei que estou sendo absurdo aqui. Mas entenda, por favor, esta semana eu só queria ser um problema. Não mais uma solução. Esta semana eu só queria ser cuidado porque, sinceramente, é insuportável ser o único adulto no parquinho.
É triste estar irremediavelmente sozinho.
E eu só queria ser feliz um pouco.
☄️ Às vezes, eu só queria que o meteoro viesse logo. Enquanto ele não vem, que tal testar que impacto ele teria aí no seu endereço?!
🎲 Semana passada não teve news (aliás, você notou?) porque eu estava de férias da escola. Recomeço hoje, trazendo um recurso interessante aqui.
🧹 Como faz pra ter um desses, será?!
🐦⬛ Você PRECISA seguir essa página. Rende reflexões incríveis sobre a vida. (Aliás, a arte é sempre um paliativo para quem - como eu - não consegue bancar a terapia).
💅E para não dizer que eu não falei da Barbie…
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