"Entre o inverno de 1816 e o outono de 1820, Alma Whittaker escreveu mais de três dúzias de artigos para George Hawkes, todos eles publicados no periódico mensal Botanica Americana. Os artigos dela não eram inovadores, mas suas ideias eram brilhantes, as ilustrações livres de erros e os estudos rigorosos e corretos. Se o trabalho de Alma não chegava a inflamar o mundo, certamente inflamava Alma".
{Elizabeth Gilbert, em “A assinatura de todas as coisas”}
Eu gosto de livros lidos e rasurados.
Gosto de imaginar porque alguém poderia ter escolhido marcar um trecho ou uma frase que não me diz absolutamente nada.
A citação de hoje, eu mesmo marquei. E com um asterisco ao lado, o que significa que ela é importante. Mas importante por quê?! Que diferença faz a você, por exemplo, que essa tal personagem tenha escrito artigos de botânica?
Nenhuma!
E é sobre isso que ela diz.
É por isso que conversa comigo.
Às vezes, acho que me encho de orgulho e senso de importância quando vou escrever um texto, um post, uma news. Às vezes, assisto meus vídeos e penso: “Coitado, se achando tão importante, tão capaz de mudar a vida de alguém…”.
A Bio do meu Insta chega a dizer: "Mudando o mundo, uma palavra por vez”.
Pode parecer megalomaníaco, narcisista, não sei.
Mas é assim que eu me sinto.
Como Alma, a personagem do livro, se sentia: com a alma inflamada.
Talvez, para o mundo, eu seja tão incapaz de alterar as coisas quanto afirmou Clarice, em sua entrevista final:
Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada.
Mas se a gente continuar essa fala só um pouco mais, a gente vai encontrar um sentido:
Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas.
A gente está querendo… desabrochar de um modo ou de outro...
Trocadilhos à parte, Alma escrevia sobre flores para desabrochar. Eu faço o mesmo por aqui. Escrevo para me entender, para crescer, para me encontrar de alguma forma. Ainda citando Clarice, desta vez em “A hora da estrela”:
Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.
Escrevo porque é isso que sei fazer e porque fiz disso o meu propósito.
Propósito. Essa era a palavra que eu queria puxar desde o começo, mas fiquei com medo de ser só mais um metido a coach dizendo que você tem que achar o seu para ser feliz.
Não tem que.
Mas é importante encontrar uma paixão, um hobby, algo que possa lhe salvar da rotina, da vida, do fluxo incessante de pensamentos. Algo que lhe permita desabrochar, que inflame a sua alma. Mesmo que o mundo não note. Mesmo que ninguém se importe. Mesmo que os outros sequer entendam o que você faz ou porque isso lhe faz tão feliz.
Porque isso é o que muda tudo PARA VOCÊ.
E isso é tão sensacional que nem sei dizer. Há tanta gente vivendo no automático, movido pela força do ódio, sem nem entender porque está aqui… Que quando alguém se apaixona por algo, se dedica, cria brilho no olho… Mesmo sem querer, muda o mundo sim.
Clarice mudou o meu. E vários escritores o fizeram também. Por isso, a minha esperança é fazer o mesmo por alguém. Por isso, esse senso de propósito e a vontade de continuar, ir além, fazer ainda mais nesse ano que começa.
Por isso também, meu desejo é um só hoje: que você possa encontrar o que lhe inflama a alma também. 💜
📝 Que o ano novo é uma folha em branco, a gente já sabe. Mas ninguém disse que seria inteira e lisinha, né?! Bora aprender a fazer arte com os pedaços e buracos que temos, então.
🧱 Para que o resultado impressione, é de pedacinho em pedacinho que precisamos ir.
🎥 Eu falei disso aqui, inclusive.
🌟 Por fim, para o ano que se inicia, meu recado é esse.
🐌 Mas nesse ritmo aqui, tá?!
Ah, e olha só que ideia interessante: que tal registrar com bordados, desenhos, cores, emojis, não sei… tudo aquilo de importante que acontecer em 2023?! Assim, ao chegar no final do ano, você vai poder ver o quanto construiu. Essa é a ideia da Marsha Kadish, uma artista que postou a seguinte imagem na Internet:
Se você quiser fazer o mesmo, deixa eu te ajudar.
Preparei um material para você imprimir (ou preencher e publicar nos stories) com a sua própria versão. Para baixar, é só clicar aqui e escolher o seu modelo, tá?!
E não deixe de me mostrar depois!
Vou adorar saber que isso fez alguma diferença no mundo. 😉
Feliz 2023, Vini!
Texto inspirador! Gratidão 🙏
Obrigada, Vinícius!
Eu lembro que não gostei de A hora da estrela quando li, mas a citação que você colocou aqui foi mais do que cirúrgica pra mim. Me fez até pensar em revisitar Macabéa, viu. Chocada com a precisão de Clarice porque é exatamente o que eu sinto e que não tava sabendo expressar, essa morte simbólica diária - justamente quando tô sentindo a maior necessidade de escrever.
Poderosa demais!
Que 2023 seja leve! E mais uma vez, obrigada!