"Quando pensamos que nossa missão é ser quem somos, nós honramos e reafirmamos a Criação".
{Natália Sousa, no podcast “Para dar nome às coisas”}
Aos 10 anos eu aprendi a nadar.
E aquela foi, também, a última vez que entrei em uma piscina sem medo.
Foi assim: eu estava testando meus próprios limites. Na água ou na vida, sempre fui desses. Então, ia cada vez mais para o fundo, ficando na ponta dos pés, que eu mexia sem parar, em busca de um equilíbrio qualquer.
Até que, de repente, eu escorreguei e… saí nadando.
Assim mesmo, sem treinamento, sem ensaio, sem técnica.
Naquele momento, eu simplesmente adquiri uma compreensão diferente. Do meu corpo e da água. Naquele dia, eu não só aprendi a nadar, como passei a flutuar de costas no meio da piscina, encontrando o ponto exato do meu corpo que fazia meu peso desaparecer.
Peso…
Então.
É chegada a parte do medo agora.
Meu medo não veio da água, das piscinas, da habilidade que eu havia acabado de desenvolver. Não. Meu medo veio de mim. (E não foi sempre assim?!)
Meu medo não veio naquela hora, naqueles dias, naquele verão.
As fotos que eu tenho comprovam isso.
Naquele verão, eu ainda tirava fotos, eu ainda sorria.
Depois é que o hiato vem.
As fotos deixam de existir.
Os sorrisos também.
Depois daquele ano, eu nunca mais tirei a camiseta livremente.
Nunca mais entrei em uma piscina, um rio, um mar.
Nunca mais expus meu corpo. Por simples medo do julgamento alheio.
Por vergonha de ser quem eu havia me tornado: um garoto gordo.
Que até tetas tinha, veja só!
Não foi uma coisa que aconteceu. Foram várias, eu acho. Eu posso até dar nome a elas - afinal, nominar é dominar. Posso falar em adolescência, bullying, pressão estética. Mas, na época, eu não tinha essas palavras todas.
Eu tinha vergonha só. E medo.
Então, cresci me privando de qualquer momento que envolvesse água. Não ia nas viagens da escola, nas festas da piscina, nos acampamentos com banho de rio ou de mar. Dizia que não gostava, que não sabia nadar, que tinha medo da água. Era mais fácil assim. Exigia menos do que a verdade.
Muita coisa aconteceu desde então.
Este ano, fui para a praia.
Entrei em piscina.
Tirei a camisa.
Mas tudo foi, ainda, muito estranho.
Desconfortável até.
Mas não é nisso que quero chegar. É na semana passada, quando fui gravar alguns vídeos para testar um novo formato de reels, mais poético, sabe?! Então: fiz o texto, imaginei as cenas, gravei alguns takes. No calor e na troca de roupas, fiquei sem camisa (dentro de casa!) e vi minha imagem no espelho.
Paralisei.
Na mesma hora, eu senti inteiro: aquilo precisava estar no vídeo também.
Se eu tivesse que explicar a sensação, não saberia. Não é exibicionismo, traço de voyeur, não era sequer vontade de aparecer assim. Às vezes, escrevendo eu sinto o mesmo: eu não imagino ou quero que uma cena seja daquela forma. Eu simplesmente sei que ela deve ser. É uma segurança que vem redonda e inteira. Um sentimento de que, sem aquilo, a arte não será completa. Não será, de forma alguma, o que nasceu para ser.
Fiz as imagens. Coloquei no vídeo. E percebi, mais uma vez, que abro mão dos meus medos, das minhas vergonhas, do meu ego, por algo maior. Nesse caso, aquela sensação de que a cena precisava aparecer.
Depois, pensei no sentido do roteiro mesmo. Ele fala sobre alguém que se basta. Que se descobre e se garante. Ele fala de mim.
Hoje, ouvindo o podcast da Natália, essa frase da citação me acertou inteiro. Para honrar a minha arte, a minha criação, eu me exponho. Eu escrevo e mostro o que for preciso, desnudo a alma (fácil) e o corpo (se preciso for).
E para honrar a Criação maior?
Assim, espiritual e mística mesmo?!
Não estaria na hora de eu me deixar contaminar também pela mesma certeza? A certeza de que não há nada de errado comigo hoje. Nem com meu corpo, nem com minha personalidade, agarrar qualidades e defeitos e usá-los como o que tenho de melhor aqui?!
Talvez, naquele momento em frente ao espelho, eu tenha experimentado de novo a sensação que tive quando aprendi a nadar. Não deu mais pé. Não dá para continuar me julgando tanto assim. Então, entendi com todo o corpo um novo ponto de equilíbrio. Uma nova forma de tirar meu peso (da mente!) e flutuar, livre, enfim, para me ver e deixar ser.
🔑 Estou falando no texto deste vídeo aqui. Se você ainda não viu, me diga lá o que achou.
🌊 Talvez, este filme (SENSACIONAL) também tenha contribuído para esse momento. É lindo ver como cada personagem ali representa um tipo de controle sobre o corpo (a religião, a medicina, a família….) e como o corpo escapa para outro lugar.
🍃 E celebre-se para celebrar a Criação.
Estou sem palavras agora, mas queria deixar um gesto de afeto depois de ler tuas experiências com água e corpo ❤
Que bonito esse texto (e também o vídeo!)