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"Estava tudo bem enquanto eles pudessem rir de mim e parecer inteligentes à minha custa, mas agora eles se sentiam inferiores ao imbecil. Comecei a ver que, por meio do meu surpreendente crescimento, eu os fiz encolher e enfatizei suas inadequações. Eu os havia traído, e eles me odiavam por isso".
{Daniel Keyes, em “Flores para Algernon”}
O meu Ensino Fundamental foi um inferno e o seu?!
Não. Eu não pergunto por educação. Ou como um recurso para começar esse texto. Eu juro que gostaria mesmo de saber. De ler, ou então de compartilhar um café com você e de ouvir. Como foi, hein?!
Nascemos antes da invenção do bullying. Antes de alguém se preocupar se aqueles apelidos todos, aquelas agressões, aqueles deboches constantes poderiam causar algum mal a longo prazo.
E causaram.
Meu Deus, como causaram.
Eu penso em escrever aqui sobre os meus apelidos e hesito. Ainda hoje, acredita?! Tanta coisa me aconteceu pior e eu escrevi. Escrevi sobre dores e as transformei em fratura exposta, sem problema algum. Minha adoção, minha mãe narcisista, a morte do meu pai. Escrevi. Sem remorso. E isso, no entanto, me constrange ainda.
Três ou quatro palavras que eu não posso dizer.
O que eles diziam de mim. As palavras que usavam para me machucar. A forma como eles me encolheram dia a dia, aula a aula, até me deixar menor do que eles.
É.
Palavras têm poder.
Imagens também.
Eu tenho duas fotos da minha adolescência, só.
Nas duas eu evito olhar para a câmera. Nas duas, eu sinto minha vontade de desaparecer. Como se eu não devesse estar ali. Como se eu não devesse estar vivo.
Quanto tempo eu levei para superar esses sentimentos?
O tempo de uma vida.
O tempo que leva para se escrever três ou quatro palavras daquelas.
Que eu não escrevi ainda.
🌱 Só veja isso.
🐚 Como uma desajustada encontrou sua voz?
🌊 Diário visual, quem aí faria?
❄️ E para terminar bem, eu acredito nisso.
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"Eu os fiz encolher"
Uma amiga de infância comentou: “nossa, você lembra da fulana? A turma pegava muito pesado com ela pq ela era gordinha. Mas nem ficou com esses traumas todos né?”
E eu: “verdade... Ela só foi pras férias, perdeu 30 kg em dois meses, foi internada por anorexia nervosa, teve nefrolitíase por desidratação e quase perdeu o rim e até hoje (20 anos depois) faz terapia. Tá tudo certo. Nem foi traumático..” 🙄🙄🙄🙄🙄
É uma conquista ter espaço para se discutir questões sobre o bullying, no entanto, como me assusta as proporções do cyberbullying.
No nosso tempo, se fizéssemos alguma besteira era mais fácil dar um jeito. Hoje é tudo facilmente documentado, espalhado para todas as escolas e eternizado nas redes sociais. É preocupante esse nível de exposição numa fase de tamanha impulsividade e de dores tão intensas.