"Estragar é tão mais rápido do que cuidar"
"Estragar é tão mais rápido do que cuidar.
Basta uma pedra contra um vidro, um jato de lama na parede branca, gestos rápidos, impensados. Duradouros. Consertar não, exige carinho, atenção. Uma batalha injusta e que estou condenado a perder".{Alfredo Nugent Setubal, em 'O livro de Líbero'}
Eu aprendi cedo a esconder os cacos.
Os copos quebrados, os espelhos partidos, os brinquedos despedaçados. Aprendi cedo que eu não podia mostrá-los em casa, ou precisaria suportar os gritos e muito mais
Eu aprendi a me livrar deles, então, aos poucos, enrolados em jornais, papéis higiênicos, caixas vazias de remédios. Eu aprendi a sair de casa com os bolsos cheios e voltar com eles vazios, tendo desovado pedaços partidos por matagais, canteiros e terrenos baldios de toda cidade.
É. Eu aprendi cedo a fingir que nada quebrou realmente.
Que aquilo que partiu, na verdade, nunca existiu.
Meu coração incluso.
Na semana passada, ele foi quebrado de novo. Mas eu não deixei ninguém saber. Fingi que ele nunca esteve aqui, dentro do peito. Já é tão automático o processo todo, que nem sei onde joguei seus pedaços. Sei que agora preciso fazer um novo. Com algum arame e fita crepe.
“Estou me segundando com fita adesiva e bons pensamentos. E ambos estão acabando”.
{Da série “Doces Magnólias”}
Agora, isso é que dá trabalho. Dos cacos eu dou conta. De reconstruir, eu já não sei. Alguma coisa sempre falta. Alguma coisa nunca encaixa de volta. Algum pedaço fundamental parece sempre ter esfarelado além do possível.
Tenho a impressão, às vezes, de que a vida tem sido basicamente isso: esse quebra e reconstrói. Esse trabalho de Sísifo. Toda vez que estou bem, que consigo me administrar e dar até alguns passinhos além, perco novamente o equilíbrio e caio de cara, quebrado, partido.
Com você é assim também?
Se sim, o que fazemos com os pedaços que faltam? O que fazemos com nossa esperança que já tem mais cola do que corpo? Com nosso otimismo, todo ele esburacado? Com nossa graça de ver a vida, que já não brilha, nem acende?
O que fazemos com a gambiarra que fomos nos tornando, pouco a pouco, queda a queda? Como vivemos tendo no peito, em vez de um coração, essa coisa tão amargurada e fria e torta e morta?
Não sei. Não sei ao certo. Mas enquanto penso - e espero você me responder -, vou ao mercado. Preciso comprar mais cola nº2. Hoje é segunda, de manhã ainda, e a semana é longa.
🫀 Atlas do coração é o nome mais piegas que uma série poderia ter. E, depois que se começa a assistir, percebe-se que é o mais perfeito também! Sério, você precisa assistir essa viagem linda pelo mapa de sentimentos e de palavras que compõem quem somos. Ela é conduzida pela Brené Brown, pesquisadora famosa por seu trabalho sobre o poder da Vulnerabilidade.
😸 Estes gatos me representam.
🏐 E, hoje, eu me sinto fazendo parte dessa escultura também.
🎐 E já que meu coração é uma gambiarra, queria que fosse assim!
(Aproveito para agradecer a todos que responderam à questão da última news, sobre a frequência dessa carta de amor aqui. De acordo com a maioria de vocês, podemos seguir com nossos encontros semanais. Apesar de alguns terem sugerido e-mails diários. Fiquei lisonjeado (seus loucos!). Lembrando que quem quiser mais de mim, me entrego também no Instagram, dia sim, dia não, sem cobrar nada a mais por isso)
Grande beijo partido e até breve.