"Holocaustos não me assombram. Estupros e trabalho escravo infantil não me assombram. Franklin, sei que você pensa o contrário, mas Kevin também não me assombra. Fico assombrada quando deixo cair uma luva na rua e um adolescente corre dois quarteirões para devolvê-la. Fico assombrada quando a moça do caixa me lança um amplo sorriso, junto com o troco, quando a minha fisionomia era apenas uma máscara apressada. Carteiras perdidas enviadas aos respectivos donos pelo correio, estranhos que fornecem indicações precisas de uma rua, vizinhos que regam as plantas uns dos outros — essas coisas me assombram."
{Lionel Shriver, em ‘Precisamos falar sobre o Kevin’}
“Por tudo que ainda me possa causar espanto” foi essa a frase que me atingiu aqui, que me derrubou e me surpreendeu na semana passada. E ela veio de um podcast. O podcast novo da Ana Roxo e da Tati Fadel.
Sim, porque eu esperava críticas ao governo, palavrões, informações, pedradas. Eu esperava uma guerra, uma guerra toda necessária, aliás.
Mas elas me derrubaram com poesia, com goiabas maduras, borboletas e Drummond.
“O que seria aquilo que ainda pode me causar espanto? Não esse espanto triste, o espanto da guerra, o espanto da fome, o espanto da pandemia que - meu Deus - não acaba. Essa frase veio no pequeno, veio no detalhe. Veio quando eu acordei e nem tinha aberto o olho, aquele tempo que está entre o sonho e a vida”.
Na semana passada, ainda, eu falava com uma amiga sobre o meu Instagram: Quem quer sensibilidade e delicadeza?! Eu estou pregando isso num mundo e num meio que quer saber de força, potência, dinheiro, sexo.
Será que eu não deveria escrever um e-book do tipo “Gatilhos para conquistar alguém - 10 palavras que farão qualquer um cair aos seus pés?”. Isso faria sucesso. Isso venderia. Ou, então, eu poderia fazer só posts como: “Te ensino a transformar suas legendas numa máquina de vendas” e “Veja como eu tripliquei meu faturamento através da escrita”.
Seria um sucesso!
Mas eu não tenho estômago. Eu não tenho vocação. Eu não tenho cara de pau.
Eu só escrevo sobre o que acredito. Sobre sensibilidades e delicadezas. Sobre a força delas para mudar o mundo. Com isso, não faço sucesso. Não viralizo. Não ganho dinheiro. Mas me espanto. Todos os dias. Porque vejo, nos comentários, mais gente que acredita também. Talvez você, inclusive.
Obrigado por isso! 💜
🦋 Aqui está o podcast imperdível da Ana e da Tati: Diário possível (mas inventado). Como elas descrevem no primeiro episódio, essa é uma última tentativa de quem ama a humanidade.
📰 Esse texto, do Jeferson Tenório, também é inspirador. Escrita, Literatura e sensibilidade andando juntas. É por aí!
📽 É nisso que eu acredito. No que a arte nos faz sentir. Seja emoção, medo, tristeza, dor. Não sei. É bonito ver nos comentários, inclusive, como cada pessoa se sensibilizou de uma maneira diferente.
Ai <3