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"Literatura não é psicologia. Escritores não falam ‘sobre’ as emoções. Eles sentem e, por meio de suas palavras, inspiram esse mesmo sentimento no leitor. O escritor toma o leitor pela mão e guia-o pelo vale de amargura e felicidade, sem nem sequer mencionar essas palavras."
{Natalie Goldberg, em 'Escrevendo com a alma'}
Eu acho que a escrita é a minha paixão mais duradoura porque, ao contrário das outras, ela não se deixa pegar nunca. Mal você entende uma nuance do processo e outras, ainda mais fascinantes, se deixam vislumbrar ao longe, sempre ao longe, provocantes, sussurrando como quem desafia: Você me quer mesmo, é?! Então vai ter que chegar até aqui…
Ah, como eu adoro desafios!
São eles que me movem pelos vales de vocábulos e as montanhas de metáforas. É com eles que sonho à noite, ou perco o sono mesmo, a revisitar poemas, frases, trechos inteiros que marcaram a minha pele, ainda que sem tatuar.
Nessa busca, leio tudo que posso sobre a criação literária. E aprendo a ver o que estava ali o tempo todo, mas que eu até então ignorava. É de um desses vislumbres que venho falar hoje: “Mostre em vez de dizer”.
Além de um bom conselho para qualquer paixão - especialmente as mais carnais - , esse lema é também um clichê dos cursos de escrita criativa. Então, é claro que eu já estava familiarizado com ele quando o encontrei no livro de Goldberg.
Se for apresentar um personagem, por exemplo, de nada adianta dizer que ele é bruto e mal-humorado pela manhã. Melhor mostrá-lo respondendo a um “Bom dia” feliz com seu típico “Bom dia pra quem, hein?! Só se for pra você!”.
Simples assim.
Mas e quando o texto é de não-ficção? Quando é uma crônica? Um desabafo? Um poema? Mas e quando eu preciso fazer você sentir o tesão que me dá escrever, investigar palavras, brincar com ideias, morder sentidos e lamber sílabas tônicas? Como eu mostro isso em vez de dizer?
Assim.
Assim como eu fiz durante todo este texto. Mexendo no tamanho das frases. Escolhendo verbos que falem da visão e do tato, substantivos lânguidos e adjetivos dignos de contos eróticos.
Ter consciência disso, adotar essa estratégia tão batida nas narrativas, mas em textos de não-ficção, é uma novidade para mim, acredita? Que eu só percebi, aliás, com o uso da inteligência artificial.
Foi assim: tenho enviado meus textos para serem avaliados pelo Chat-GPT e várias vezes ele me diz que há trechos confusos. Claro que sim! Eu falo de sentimentos confusos. Não estou aqui fazendo redações de vestibular. Não quero coesão e coerência dentro da minha confusão e carência. Quero lacunas, buracos para você preencher, feridas abertas nas quais qualquer um pode enfiar os dedos, as mãos, ou mais.
Me deixe passar com minha confusão, seu GPT, porque eu preciso mostrar mais que dizer. Só assim eu faço alguém do outro lado sentir também:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.{Fernando Pessoa, em ‘Autopsicografia’}
Isso estava ali o tempo todo, num dos meus poemas preferidos do Pessoa. A gente finge a dor, finge o tesão, finge até a confusão. Não como mentira, mas como engendro. A gente precisa mostrar o que está por dentro. E esse mostrar é assim: exige recursos (linguísticos, artísticos), exige colocar numa forma o que não existe com palavras, o que se perde ao ser tocado, o que flutua…
Então, é isso que a gente faz: a gente pega o sente e exagera, pinta, perfuma, maquia. A gente dá cor, salto, voz, tom e batom. A gente seduz, com uma luz que não existe, que não é nossa, é do discurso. Só para dar a noção da sedução que sente mesmo. Se eu já fazia isso antes, sem saber, imagine agora, sabendo.
No brilho das palavras e na dança das letras, floreio agora a minha essência desdobrada em linhas. A escrita, eterna amante, acolhe meus anseios e desperta a chama da criação. Em cada texto, em cada verso, deixo um pedaço de mim e convido você a penetrar nessa jornada de sentidos e sensações.
Que nossas palavras entrelaçadas sejam pontes para emoções compartilhadas, e que essa paixão literária nos conduza por horizontes inexplorados, ainda que no limite das próprias retinas. Vamos escrever, sentir e criar, juntos, nessa sinfonia de linguagem que ecoa e seduz para muito além das letras todas. Todas.
🕹 Este game tem tudo a ver com o texto de hoje! Nele, você precisa adivinhar qual palavra está oculta. Sua melhor dica é o material que forma as letras. Mostrar e dizer! (PS: está em inglês, mas são palavras bem básicas para quem não domina o idioma).
🏆 Como (ou quando) se chega ao sucesso na escrita? Uma news maravilhosa sobre o assunto.
🐞 Gosto tanto da arte possível, daquela que nem vai para as galerias.
🌫 E da arte incrível, da que se faz pensando assim: “e se… eu colocasse 14 espelhos no chão?!”
🚇 Tunnel books?! Mas que maravilha é essa?!
💩 Se cria conteúdo, você precisa pensar sobre isso!
4. Ou, ainda, enviar um pix de qualquer valor para: vinicius.linne@gmail.com.
Espero que você tenha gostado da news de hoje. E desse amarelinho que começou agora e vai seguir pelas próximas semanas, acompanhando das cores do meu Insta.
Aliás, nos vemos por lá.
Abraço, tá?!