“Como uma pessoa pode saber tudo aos 18
Mas nada aos 22?”{Taylor Swift, em ‘Nothing New’}
Quem você era aos 18?!
Quais certezas tinha?!
Quantas continuam com você e quantas você viu desmoronar?!
A gente sempre pensa que a história é cumulativa.
Que vamos só adquirindo novas experiências, somando aprendizados, amadurecendo, enfim.
E não é assim?!
Não!
A vida é cíclica, traça espirais, faz voltas, redemoinhos. Assim como um rio, ela traz muita coisa com a correnteza, mas também lava e leva embora.
Quantas pessoas a quem você jurou amizade eterna, aos 18, continuam com você até hoje?! Quantos amores de perdição você já perdeu e hoje até dá graças a Deus?! Você seguiu a profissão que queria seguir? E se não seguiu, pensa que seria feliz com ela? Quantas vezes você mudou de penteado, de estilo, de músicas favoritas?! Quantos foram os seus filmes da vida? Quantos dramas seus hoje parecem só bobagem?!
Sabe, eu me achava maduro aos 18.
Eu me sentia um escritor prestes a ser consagrado.
Eu previa uma vida de corridas com copos do Starbucks no trânsito de Nova York.
Ou, quanto menos, meu olhar perdido na sacada do meu apartamento em Porto Alegre, buscando inspiração para a minha crônica da próxima quarta-feira no Zero Hora.
Hoje, aos 36, me sinto mais perdido, mais só, mais cheio de incertezas.
Nunca bebi um café do Starbucks, nem sei se quero. Não cheguei a Porto Alegre, nem ao Zero Hora. Mas sábado, na formatura em Letras de uma aluna que foi minha desde o sexto ano, senti que estava exatamente onde deveria estar.
Foi ela quem citou Taylor Swift no discurso que fez.
Aos 18 ela disse que estava cheia de certezas também. Hoje, aprendeu que não saber também é caminho.
A vida é feita de desmontes, de demolições, de renovação constante.
Estamos sempre desfazendo certezas, mexendo nas estruturas, mudando.
E ainda bem que é assim. Ainda bem que vamos abandonando a rigidez dos 18, os planos perfeitos, as decisões para a vida toda.
Não existe “para a vida toda”.
Existe por enquanto.
Por enquanto, estou relendo um livro.
“A elegância do ouriço”, conhece?! Quando li pela primeira vez, aos 22 anos, eu me identifiquei logo com a Renée, zeladora de um prédio chique que ama filosofia e disfarça sua erudição com uma fingida estupidez. O motivo: não perturbar o pedantismo de seus patrões, nem ser convocada a usar seu brilhantismo em função do capital. Suas tiradas amargas e sarcásticas, seu jeito azedo de olhar para vida, pareciam combinar com o meu, apesar da nossa diferença de idade. Ela tinha 54.
“Como raramente sou simpática, embora sempre bem-educada, não gostam de mim, mas me toleram porque correspondo tão bem ao que a crença social associou ao paradigma da concierge, que sou uma das múltiplas engrenagens que fazem girar a grande ilusão universal de que a vida tem um sentido que pode ser facilmente decifrado”.
{Muriel Barbery, em “A elegância do ouriço”}
Hoje, eu me identifico bem mais com a Paloma, a outra narradora da obra. Uma menina de 12 anos, que pretende se suicidar no seu 13º aniversário. Paloma Josse é inteligente e sensível, mas se sente sufocada pela superficialidade da vida burguesa ao seu redor. Fascinada por arte e filosofia, ela passa seus dias escrevendo reflexões profundas e planejando seu suicídio, a menos que encontre um motivo genuíno para continuar vivendo.
“O problema é que os filhos acreditam nos discursos dos adultos e, ao se tornar adultos, vingam-se enganado os próprios filhos. ‘A vida tem um sentido que os adultos conhecem’ é a mentira universal em que todo mundo é obrigado a acreditar. Quando, na idade adulta, compreende-se que é mentira, é tarde demais”.
{Muriel Barbery, em “A elegância do ouriço”}
Antes que chamem o primeiro psiquiatra de plantão, não, não me identifico com a parte do suicídio. Mas com a busca pelo que torna a vida interessante. Com a sensibilidade de olhar ao redor querendo descobrir algo. O quê?! Não sabemos. A idade ainda não nos permite descobrir.
O que importa é que aos 36 me sinto, por dentro, mais perto dos 12 do que dos 54.
E isso é maturidade, no fim. Reconhecer as incertezas, abraças as inseguranças, saber que se sabe muito pouco, no fim, e está tudo bem.
E talvez seja isso que nos mantém vivos: a busca constante, a curiosidade insaciável, a vontade de entender o que nos rodeia, mesmo sabendo que nunca teremos todas as respostas. A vida, afinal, não é sobre acumular certezas, mas sobre perder as cascas.
Hoje, percebo que a maturidade não é sobre carregar todas as certezas. É sobre ir se livrando delas no caminho, é sobre ir se tornando mais leve. É sobre aceitar que a vida é um fluxo contínuo de mudanças e que, no meio de tantas voltas e reviravoltas, o que realmente importa é encontrar beleza e significado no caminho.
É no por enquanto que somos quem precisamos ser.
🧟♂️ Essa arte é tão macabra, mas tão macabra, que me deixa fascinado.
🌹 E essa me pega pela delicadeza mesmo.
🖼️ A reflexão deste vídeo me fez pensar no livro que estou lendo.
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Bombou no Insta esta semana:
quem carrega certezas demais leva muito peso...
o início desse texto me lembrou a música “a lista”, do oswaldo montenegro.
gostei muito da news de hoje! adoro essa música e a ideia que ela traz do não-saber, bem como você pontuou. quanto mais eu envelheço, mais percebo o tanto de coisa que não sei. mas amadurecer é perceber que é normal não saber, porque a vida é um movimento de estar sempre tentando descobrir.