⭐ " Como um destino"
“Será que Alfonso também escondia no peito dom Achille, seu pai, apesar do jeito delicado? Será possível que os pais não morram nunca, que todo filho os carregue dentro de si inevitavelmente? Então de dentro de mim realmente brotaria minha mãe, seu andar trôpego, como um destino?”
{Elena Ferrante, em ‘História do novo sobrenome’}
Se for assim, é ela quem se esgueira por dentro de mim, andando pelas paredes, correndo pelo teto, cravando suas unhas vermelhas na carne que eu chamo de minha. É ela quem me parte, me quebra, me arranca os pedaços e os derruba para o fundo do poço.
Se for assim, eu sou só a carcaça do que sobrou dela.
Uma obra de demolição feita de mim, que ela usa para perdurar.
Só para que, um dia, ela surja por debaixo da minha pele, tomando meu lugar, seus olhos verdes de cobra substituindo os meus, castanhos.
É ela, se for assim, quem aperta meu coração e o faz virar pedra, esfarelando tudo.
E é por isso que eu odeio o dia das mães.
Porque ele me mostra tudo o que eu perdi. Todo o acolhimento, a aceitação, o amor mesmo. Tudo que as propagandas pregam, tudo que os filhos prezam, tudo que o padre falou na missa desse domingo, enquanto eu sentia que, por dentro de mim, ela corria, feito um rato nas paredes de casa, denunciando o vazio das paredes duplas e roendo os fios de luz.
Foi assim desde o primeiro dia das mães de que me lembro.
Eu tinha quatro anos apenas. E foi nele que ela começou sua empreitada longa, paciente e cruel de me implodir inteiro.
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