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"Como se eu só amasse o que não conheço"
“Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se diga melancólico, olhando as estrelas: ‘Que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?’”.
{Clarice Lispector, na crônica Um amor conquistado, publicada em 'A descoberta do mundo'}
Clarice não se lê nas palavras ditas.
Se lê no escuro. No escuro que faz por dentro da gente.
É desse lugar que eu escrevo hoje.
E só caí nele por conta de um sonho que tive.
Não quero falar do sonho. Eu não poderia. Assim como não se pode falar do sabor de uma uva recém colhida, de um beijo apaixonado ou de quanto sal tem na lágrima de quem chora por nós.
Não. Quero falar é do sentimento que me veio quando acordei. Mas antes disso, deixa eu te contar: meu primeiro blog, que tive quando ainda nem era adolescente, se chamava O criador de pesadelos.
Pretensioso, eu sei.
Mas ainda gosto da explicação que dei então: Quando você acorda de um pesadelo, não importa quão dura ou brutal ou banal a sua realidade seja, o que você sente é alívio, certo?! Certo.
Já quando você acorda de um sonho bom, quando você é roubado dos braços de alguém, quando param de correr os rios de leite e mel que só nos sonhos existem, não importa quão perfeito seja o seu dia, você se sente só e decepcionado, não é?!
Pois então.
Foi assim que eu me senti esta semana. Tudo porque um sonho veio me mostrar quão pequeno eu sou. O quanto eu consigo me enganar achando que sou maduro e autossuficiente e racional…
Sou nada.
Sou só um menino sem pai.
“Que se há de fazer com a verdade de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só?”.
{Clarice Lispector}
Bastou um sonho, um só, para me abrir uma cratera no peito, do tamanho de um punho. De repente, eu me vi sentindo falta do que nem conheço, do que eu não posso conseguir, nem aqui, nem em lugar algum.
Porque isso é o pior de todo sonho, sabe?! O quanto ele é diáfano. Seu tecido não existe em nenhuma loja. Seu sabor não vende em nenhum mercado. Sua cor não há em nenhuma das bilhões de pinturas que se exibem por aí. Seu cheiro, meu Deus, seu cheiro, não está em nenhuma pele do planeta inteiro.
Basta tocar um sonho para perdê-lo para sempre.
E como se recupera o que está perdido?
E pior: como se vive depois de ter sonhado tanto, se no outro dia é segunda-feira, chove de novo e você se sente mais só do que já se sentia antes?!
Talvez, a única forma seja percebendo que mesmo que nossos sonhos nunca se tornem realidade, eles pelo menos nos mostram que ainda somos capazes de sentir alegria. E amor. E esperança.
E, talvez, isso seja suficiente para nos manter vivos por enquanto.
🧵 Um bordado animado. Taí uma coisa que eu nunca pensei que fosse ver, nem em sonho.
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✨ Se os outros links enchem os olhos, esse enche também o peito.
🤫 E só para avisar, caso você não tenha visto, ontem foi Dia do Silêncio, sabia?!
4. Ou, ainda, enviar um pix de qualquer valor para: vinicius.linne@gmail.com.
De todas as maneiras, eu agradeço demais por você estar aqui e por colaborar com o meu trabalho.
No mais, nos vemos nos nossos sonhos. 🧡
(ou isso seria um pesadelo? 😱)