“como escapar ao labirinto
do próprio pensamento
se as paredes que nos prendem,
a criatura disposta a nos engolir
e o fio a que nos apegamos
são uma mesma e única coisa?”{Tarso de Melo, em ‘Novelo’}
Tudo é mente - dizem os livros cabalísticos e repetem os gurus da internet.
O universo é mental - as coisas são o que você pensa a respeito delas.
Parece simples. E às vezes é. Às vezes, eu quase acredito nisso.
Às vezes, eu consigo ser estoico e não pensar demais, sabe?!
Consigo agir de maneira sóbria, separar o que me acontece do que eu penso e sinto sobre o que acontece.
É bom escapar dos próprios labirintos, seguir os fios que nos levam para longe do Minotauro. Acho que foi a escrita quem me mostrou isso, quem me ajudou a desenhar um mapa das minhas paredes, portas e becos de dentro.
Houve um tempo em que comecei a seguir “O caminho do Artista”, método da escritora Julia Cameron para despertar a criatividade que existe dentro de nós. Por alguns meses, eu consegui manter uma das bases recomendadas por ela: as páginas matinais. Imagine escrever, todos os dias, duas ou três páginas, logo após acordar. A ideia não é produzir contos, novelas, romances… Nada disso. É só escrever seus pensamentos, sem filtro, colocar no papel tudo aquilo que passar pela mente.
Foi ali que eu percebi quão pouco eu me conhecia de verdade. Recomendo a técnica, inclusive. As minhas obsessões apareceram todas. O que eu pensei que estava superado brotava ali, dia a dia. Incômodos que pareciam ínfimos, eu percebia que ocupavam boa parte da minha mente naquela época.
Quando me lembro disso, consigo perceber que meu inimigo vive dentro desse labirinto chamado “eu”. A escrita me ajuda, a leitura também. Com elas, consigo estudar, me desenvolver e domar a fera. Quase, quase escapar.
Sou Dédalo construindo asas.
Mas elas são de cera.
Porque há sim um universo todo dentro de nós. O problema é que ele colide com o universo de fora. Há muito na nossa mente, mas a materialidade impera fora.
Pais morrem. Mães narcisistas passam a morar com a gente e trazem consigo suas dívidas enormes, seus luxos incomensuráveis. Panelas de pressão explodem e fazem você passar a tarde tirando tomates de forro da cozinha. Gripes chegam e se vão ao sabor da estação. Chuvas levam casas inteiras. Amigas despencam em poços de elevador e nós caímos atrás. Isso tudo independe do que pensamos, dos planos que fazemos, da energia que emanamos.
Às vezes, o labirinto da mente é nada diante dos monstros da vida.
Às vezes, as asas são mesmo de cera e quando achamos que estamos escapando, é só para cair de uma altura maior.
Às vezes, olho para as paredes em volta e já não sei de que materiais são feitas: medos e memórias? sonhos e desejos? ou só teias de ilusão? Nessas horas não sei se minha mente é um labirinto ou um escudo. Se ela faz eu me perder ou se me protege. Se eu sou Teseu ou o próprio Minotauro.
Você também se sente assim?
Entre o céu e o abismo, precisamos aprender a dançar com nossos demônios e sonhos. Entre a mente e o mundo, nossas as asas podem ser de cera, mas nossos espíritos são de fogo, ardendo com a paixão de viver e a coragem de enfrentar o desconhecido.
Cada queda é um prelúdio para um novo voo, cada beco sem saída é um convite para um novo começo. Assim funcionam os labirintos, nos quais toda encruzilhada é uma oportunidade para escolher ser mais do que somos, para encontrar beleza na complexidade de existir, para caminhar, enfim, em busca de algum fim.
Seja a saída, seja a boca do Minotauro.
🐂 E por falar em Minotauro, isso aqui é bom demais!
📥 Pensar fora da caixa, fazer arte dentro dela.
📖 Amei essa campanha.
🪟 Para fugir da realidade, estou lendo esta série. Vejam que lindas as edições!
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difícil é chegar ao equilíbrio entre o lado de fora e o lado de dentro.