"Addie desaba contra o muro de tijolos. Pensa que ser esquecida é um pouco como enlouquecer. Você começa a se perguntar o que é real, se você é real. Afinal, como algo que não é lembrado pode existir? É como aquele koan budista sobre a árvore que cai na floresta. Se ninguém a ouvir cair, será que aconteceu de verdade?
Se uma pessoa é incapaz de deixar uma marca no mundo, será que ela existe?".
{V. E. Schwab, em ‘A vida invisível de Addie LaRue’}
Em um dos meus livros da infância, a punição lançada sobre a vilã era esta: a de ser esquecida por todos.
Ainda pequeno, eu já me arrepiava com essa possibilidade. De alguma forma, eu intuía que ser lembrado é existir. Simples assim.
Meu avô existe em mim.
Existe em cada lembrança dele deitado ao meu lado, jogando bolita no chão da cozinha, em um buraco deixado por um nó da madeira. Existe nos cachorros tortos que ele me desenhava em papel de pão com seu lápis de marceneiro. Existe nas histórias que ele contava, nas palavras em alemão que me ensinou e que eu repito até hoje.
Meu pai existe em mim.
Existe no açúcar que ele me mostrou como queimar na hora de fritar o frango. Existe na calma que me inspira, no carinho com que me protegia. Na frase que me quebrou inteiro, dita entre lágrimas: “De tudo que a mãe contou, só uma coisa é mentira, Vinícius. Aquele não é teu pai. Eu sou teu pai!”.
Eu existo na minha filha.
Às vezes, essa ideia me toma, inclusive. “Um dia, quando ela pensar em mim, vai se lembrar desse momento”. Nem sempre a gente tem essa noção. De que cada vivência faz parte de um rol de memórias que vamos criando em quem amamos. E que um dia viveremos só nessas memórias. Depois, nem nisso.
É de Amós Oz a frase de que morremos duas vezes. Uma quando deixamos de respirar, outra quando se vai a última pessoa que nos amou.
Por isso, eu acho, o livro da Schwab mexeu tanto comigo. Porque nele, depois de um acordo mal feito com um antigo deus da noite, Abbie passa a ser esquecida por todos, tão logo se afaste deles. Nem os pais sabem quem ela é. Ninguém. Nenhuma marca sua permanece. As letras se apagam, as tintas evanescem, nem o que ela quebra permanece quebrado, fica intacto novamente pouco tempo depois.
Como viver assim? Eu não conseguiria imaginar. Preciso marcar. Preciso me inscrever em tudo que toco. Preciso permanecer em todos que amo. Mas Schwab conseguiu. Imaginou, escreveu e me fez lembrar de Abbie LaRue para sempre. Afinal, todo livro que marca, existe na gente também.
Existe porque nos lembra de quem somos e de todos que vivem dentro de nós.
🔮 Por falar em marcar (ou ser esquecido para sempre), essa cena sempre me deixa reflexivo por horas. Cheguei a comprar o livro no qual o filme é inspirado só por causa dela…
🪞 E se eu te disser que amor próprio não é repetir “Eu me amo!” na frente do espelho, mas cuidar das suas relações?! Ouça esse podcast aqui e depois me conte.
✏️ Uma herança que podemos deixar ao mundo, com certeza, é arte que produzimos!
💖 BÔNUS: Toda marca vale!
Era isso por hoje.
Só espero que algo dessa news tenha ficado aí por dentro também! 💜
A edição de hoje me tocou, hein...