"À espera"
“Compreendi de repente por que não conquistei Nino, por que Lila o conquistou. Eu não era capaz de me entregar a sentimentos verdadeiros. Não sabia me deixar arrastar além dos limites. Não possuía aquela potência emotiva que levara Lila a fazer de tudo para gozar aquele dia e aquela noite. Me mantinha recuada, à espera. Já ela tomava as coisas para si, as queria de verdade, se apaixonava, ia para o tudo ou nada e não temia o desprezo, o escárnio, as cusparadas, as surras. Ela enfim merecera Nino porque considerava que amá-lo já era tentar conquistá-lo, e não esperar que ele a quisesse.”
{Elena Ferrante, em ‘História do novo sobrenome’}
Talvez, eu tenha nascido sem garras
Não sou o tipo de pessoa que gosta de disputas. Nem de brigas.
Se for preciso competir para provar o meu valor, sinto que não tenho valor algum.
Faço o meu melhor e espero. Se vier o reconhecimento, veio. Se não, sigo.
Não insisto, não grito, não imploro. Não sou o tipo de pessoa que se sabota os outros — só a mim mesmo, claro. Não empurro nem puxo tapetes, não ultrapasso os passos alheios.
Prefiro ser e esperar. Prefiro acreditar que algum dia serei notado.
Mesmo que este dia nunca chegue.
Lembro de um dia no jardim da infância. Um colega me deu um tapa na cara. E o que mais me surpreendeu, hoje eu sei, foi que não doeu. Eu não senti nada. Só o silêncio do depois. O meu silêncio. O dele, de olhos espantados com a própria (falta de) violência. O silêncio dos balanços que pararam, súbitos, esperando o que viria a seguir.
E o que veio foi que eu chorei.
Chorei pelo que eu não fiz.
Chorei por não saber revidar.
Por me faltar não a força do tapa, mas a força necessária para dar um tapa em alguém em frente a todos os outros.
Talvez tenha sido ali que nasceu esta minha apatia teimosa.
Se eu tivesse revidado, se eu tivesse feito aquele tapa virar soco, virar vendaval de areia, virar mordidas na orelha, eu talvez fosse outro hoje.
Mas eu não sou.
Sou quem prefere perder o ônibus a gritar para o motorista.
Quem desiste de filas.
Quem ama de longe, torce em silêncio, e quando perde, perde quieto.
Como o leão do Mágico de Oz, às vezes acho que nasci sem coragem.
Faltam-me as garras.
Ou falta-me ao que agarrar?
Talvez, o que me falte não seja coragem, mas sentido.
Uma razão que valha o risco de sangrar as mãos.
Não é que eu não queira lutar.
É que nunca me encantou o troféu.
Porque vi os ousados caírem de cara no chão. Vi os que gritaram serem chamados de loucos. Vi os que amaram demais serem esquecidos com pressa.
Vi quem se expôs ser ridicularizado.
Quem tentou, ser punido.
Quem sentiu, ser diminuído.
E então fui aprendendo a ser pouco, a ficar quieto, a ser por dentro.
A esconder os olhos quando falam alto demais.
A rir de lado.
A amar com o freio de mão puxado.
Mas o corpo sabe.
O corpo sempre sabe.
Há uma tensão que se acumula nas costas, uma raiva que não explode, mas se aloja. Um grito que desce e nunca sai. Uma vontade de quebrar tudo que às vezes se transforma em enxaqueca, insônia ou gastrite.
Não é paz.
É contenção.
E tem dias — poucos, mas tem — em que tudo isso me revolta. Em que eu queria rasgar essa pele educada que me costuraram. Queria me permitir a brutalidade de quem age sem pedir desculpas depois. Queria amar sem calcular o retorno. Queria avançar sem medo de parecer ridículo.
Queria, enfim, parar de esperar que alguém me escolha.
E escolher primeiro.
Mas ainda não sei como.
Ainda espero no ponto.
Mesmo sabendo que o meu ônibus não vai parar.
☄️ Estou apaixonado pelos vídeos deste perfil.
🛸 Em algum momento chegaremos lá?!
💿 Bobo, eu sei, mas nostálgico.
🪐 O silêncio das coisas está aqui.
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