"A direção dos sonhos são os desejos"
"É como se o material dos sonhos fossem as memórias, mas a direção dos sonhos são os desejos".
{Lucas Liedke, no episodio “Sonhos Esquecidos” do Podcast Vibes em Análise}
Qual é hoje o seu maior sonho?
Eu tenho pensado bastante sobre esse assunto desde que assisti ao documentário Nunca me sonharam. Foi nele que ouvi pela primeira vez a expressão “encurtamento de sonhos”.
De acordo com o psicanalista Christian Dunker, nossos jovens têm hoje sonhos encurtados, ou seja, considerando a própria realidade como base, eles perderam a capacidade de pensar alto na hora de imaginar ou projetar o futuro.
Mas não só eles, né?
Levando em conta que o sonho pode ser ilimitado, que é uma projeção, que não precisa de âncoras: qual é hoje o seu maior sonho? O mais brilhante, o mais impossível, o mais solto e imenso?
A pergunta é difícil…
Isso porque vamos abrindo mão dos sonhos pelo caminho. Até perder, quem sabe, a própria capacidade de sonhar.
Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.
Em “As Pombas”, Raimundo Correia já avisava sobre o risco. E eu vejo isso todos os dias, nos meninos para quem dou aula.
Aos 15 anos, eles querem ser jogadores de futebol, viajar pela Europa, namorar supermodelos e fechar publicidades milionárias com a Nike.
Aos 16, começam a procurar um emprego porque a família não dá mais conta de sustentá-los.
Aos 17, abandonam a escola para virar serventes de pedreiros.
Mas e os sonhos?
Outro dia, perguntei em todo o Ensino Médio quais eram os sonhos deles para as férias. Não quis ir tão além e falar da vida toda. Fiquei nas férias.
As respostas: poder dormir, não fazer nada, jogar, ver TV, ir para a praia.
“Sonhos encurtados”, pensei eu, apressado.
Até eles me perguntarem: “E os seus, professor?”
Acabei a aula mais cedo naquele dia.
E ando incomodado desde então. Sonhar pequeno ou pouco é reflexo de uma vida também pequena ou pouca, marcada pela necessidade, pela brutalidade de um estômago que ronca, de uma existência não garantida para amanhã. Mas é, ao mesmo tempo, a causa disso tudo também.
“É pelos sonhos que vamos”, já citei por aqui. Alguém cujo sonho maior é poder dormir nas férias, não vai tentar nada além, não vai crescer sua subjetividade, seu conhecimento, sua vontade. Não vai transformar tudo.
Às vezes, me chamam de alienado, por falar tanto de subjetividades e de sentimentos. Mas enriquecer os sonhos, a sensibilidade, a delicadeza, é uma forma de dar luxo à alma.
Feito isso, a mente e o corpo correm atrás depois. Eu sei que correm.
📼 Se você for da área da educação, ou tiver filhos adolescentes, por favor, vale muito a pena assistir a esse documentário.
🤯 A newsletter de hoje seria completamente outra, até eu encontrar esse vídeo e ele mexer com a minha cabeça (embora fale de sonho em outro sentido, eu sei).
🪅 Fica o recado! Vale para a vida, para os desejos, para os sonhos…. Para nós!
🪡 Bônus 1: Se você ainda não conhece, veja o trabalho do Bruno Siqueira. Fotografias e poesias bordadas numa combinação perfeita.
💎 Bônus 2 (hoje estou um exagero mesmo): A série de palestras “O ciclo dos sonhos” pode ser incrível para você que se interessa por esse tema e quer aprofundá-lo. Há inclusive uma série de cadernos que acompanham e ampliam as falas.