“Você nunca será capaz de experimentar tudo. Então, por favor, faça justiça poética à sua alma e simplesmente experimente a si mesmo".
{Albert Camus, em ‘Cadernos - 1935-37’}
Às vezes, você precisa que todas as luzes se apaguem.
Só para ver o que ainda brilha.
Entende o que eu quero dizer?!
Na semana passada, eu atravessava uma noite escura da alma, um momento em que a vida simplesmente parou de fazer sentido. Você chegou a ler aquela news?! Se sim, me perdoe, mas ela foi necessária.
Há uma frase bem conhecida já, de uma música do Leonard Cohen, cuja tradução é mais ou menos assim: “Há uma rachadura em todas as coisas, é por ela que a luz entra”.
E é isso que eu quero dizer. Para ver essa rachadura, para identificar de onde vem a luz, às vezes a gente precisa apagar tudo mesmo, tirar o sentido, perder o rumo. Só assim estabelecemos o que ainda importa. Só nesse silêncio profundo é que conseguimos ouvir bem o chamado da nossa própria alma.
Sim, porque ela nos chama, sem cessar, de algum lugar dentro de nós.
Foi isso que descobri esta semana, quando me disseram quase assim:
“Por que tu te evitas tanto? O que aconteceu aí para que tu não tenhas o sucesso que está prometido para ti nas trilhas de tarot, nos astros todos, nas linhas da tua mão? Quem te segura, além de ti? O que te impede de ir além? Que permissão te falta? Quando tu vais perceber que não há labirintos do lado de fora, só do lado de dentro de ti, pôxa!?”
E, sem responder, eu me senti como num cartoon que vi há anos já:
Por que eu vivo atrás das grades, quando o mundo é tão vasto em volta?
Por que eu me acredito preso, sem saída e sem sentido, se a vida pode ser uma página em branco - ou quase - para eu escrever uma nova história?
De onde vem o peso que coloco em tudo?!
De mim.
Do meu passado, das minhas escolhas, da minha perspectiva.
E eu não quero ser coach aqui e dizer que você pode fazer tudo ficar bem só olhando a vida de um novo ângulo. Por favor! Há um contexto social, econômico, e o escambau que torna a vida de alguns de nós muito mais difícil do que a de outros.
Não sou simplista, pelo amor de Deus!
O que eu quero dizer é que, por vezes, precisamos olhar para as grades um pouco mais de perto. Ao invés de só reclamar da prisão, precisamos entender de que material as barras são feitas, até onde elas vão e quais brechas nos permitem passar, ainda que por um só momento.
A minha luz, minha soltura, não preciso dizer, vem da escrita.
Desde os 18, eu repito que quero ser escritor.
Mas então as grades vêm. Vem a insegurança, vêm os ideais inatingíveis, vem a complexidade que vai tingindo e contaminando cada ideia minha. Vem a impossibilidade de tentar, de arriscar, de me deixar falhar.
Se eu nunca escrever, de fato, não vou falhar.
Serei sempre a possibilidade de um sucesso, jamais um fracasso.
Serei sempre o que ficou preso, implorando para sair por uma porta sem batente, sem parede, sem porta, sem nada. Serei sempre um “e se”.
Eu precisei encarar a escuridão para ver as minhas grades.
E precisei me perder para descobrir que a minha jornada agora não é sobre conseguir, é sobre descobrir que sou capaz.
No mesmo dia em que aquelas perguntas lá de cima me foram feitas, eu comecei a escrever um livro. Não quero colocar pressão nele, perfeição, objetivos certeiros. Não quero uma editora, nem meu nome na capa, nada.
Quero só o aprendizado. Quero provar para mim mesmo que sou capaz de escrever. Quero me divertir no processo. Quero me tornar melhor e melhor a cada página. Quero conviver com aqueles personagens e sentir como a história brota de mim, mas não é minha; ela se modifica a seu bel-prazer, faz voltas, espirais. Quero me sentir capaz de novo. Porque eu se eu conseguir escrever este livro, consigo qualquer coisa, eu sei.
De repente, não tenho mais uma grade na mão, mas uma caneta.
Uma caneta com a qual posso reescrever essa história.
Cada palavra é, assim, um sopro de vida, cada frase é um passo para fora das grades que construí. Em mim, hoje, não há mais medo do fracasso, nem necessidade de sucesso. Há só a possibilidade de ser eu mesmo de novo.
Escrever é meu ato de rebeldia e minha declaração de liberdade.
Enquanto as páginas se enchem, eu me esvazio das dúvidas e me preencho de possibilidades. Assim, o livro que nasce não é apenas um conjunto de palavras; é a prova de que as grades sempre foram ilusórias e de que o único carcereiro era eu mesmo.
Agora, já mais livre, eu percebo que tanta escuridão era só o prenúncio de um céu noturno, no qual as estrelas chegam, uma a uma, para iluminar a vida.
🤳 Quem são os deuses da nossa geração?
🃏 É para amar muito essas artes do Guilherme Amaral!
❤️ Ele é meu favorito.
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Bombou no Insta esta semana:
Não sei se vc conhece o Tarô do Osho. Tem uma carta chamada "O forasteiro" que a ilustração que vc colocou na newsletter me lembrou. Um menino atrás de um portão gradeado com corrente e cadeado, mas o cadeado está aberto. Pesquisa no Google o que diz a carta. Vale a pena ler. Combina demais com tudo que vc está vivendo. Obrigada por me encorajar tanto, mesmo nos seus dias sombrios. Com tudo que leio só penso que vc é humano e tá tudo bem ter altos e baixos. Coragem de se expor, porém, não é pra todo mundo. Um beijo grande
impressionante a nossa capacidade de ser nossa própria prisão. que consigamos nos libertar dela sempre que possível!